“Dookie” (1994, Reprise), Green Day
Por Sidney Falcão
Após muita exposição midiática e sofrer um duro golpe com a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana, em abril de 1994, o grunge começa a entrar em declínio. Num sentido oposto, do outro lado Atlântico, o britpop está em franca ascensão no Reino Unido, e em pouco tempo, dominará o mundo.
É nesse
cenário que uma nova tendência vinda da costa oeste dos Estados Unidos
despontava fazendo um revivalismo de um velho conhecido: o punk rock. A tal
tendência era o pop punk, que resgatava o ritmo furioso do punk, acrescentando
a ele acrescentava melodia pop, solos rápidos e curtos de guitarra, cujo
resultado final era um tipo de música agressiva e ao mesmo tempo acessível, de
fácil consumo do ponto de vista radiofônico. Não tardou para que bandas pop
punks caíssem no gosto do público jovem, assinassem contrato com grandes
gravadoras e rapidamente alcançassem o estrelato. Quem não gostou nada disso
foram os antigos punks que viram naquela nova tendência, um desvirtuamento dos
ideais punks.
Uma das
primeiras bandas de pop punk a ganhar fama em escala mundial, e ser alvo de uma
bateria de críticas dos punks veteranos, foi a californiana Green Day, formada
em 1987, na cidade de Berkeley. Os dois primeiros álbuns do power trio, 39/Smooth
(1990) e Kerplunk (1992), foram
lançados pelo selo independente Lookout! Records. A boa recepção do público e
da crítica por Kerplunk, despertou a atenção da gravadora Reprise Records, uma
subsidiária da Warner, que fez uma proposta irrecusável à banda californiana.
Logo o trio deixou a Lookout! e assinou com a Reprise, o que gerou comentários
negativos, como o de que o Green Day havia se “vendido”.
Intitulado Dookie,
terceiro álbum de estúdio da carreira do Green Day e o primeiro por uma grande
gravadora, foi lançado em 1º de fevereiro de 1994. Dookie resume bem o
espírito pop punk: letras descontraídas e juvenis, ritmo veloz, pesado, mas com
um certo “polimento” sonoro para torna-lo mais “palatável”.
O começo
repentino da primeira faixa, “Burnout”, com voz e instrumentos ao mesmo, dão
início ao álbum, e à toda velocidade. A música fala de tédio e da falta de
perspectivas na vida. O ponto alto de “Burnout” é a pausa instrumental em que
Tré Cool faz um pequeno e alucinado solo de bateria, demonstrando fúria e ao
mesmo tempo um completo domínio técnico do instrumento.
A sarcástica
“Having A Blast” trata sobre vingança: um homem-bomba que está prestes a
explodir dentro de um avião, e levar consigo muita gente para se vingar
daqueles que fizeram mal a ele. “Chump” faz referência ao ciúme e inveja que um
sujeito tinha de uma pessoa que ele nem conhecia. Mas o destaque fica mesmo
para a longa seção instrumental da música, concentrada na performance do baixo
e da bateria.
Green Day em fevereiro de 1994, da esquerda para esquerda: Mike Dirnt,
Billie Joe Armstrong e Tre Cool.
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“Longview”
tem o seu título baseado no nome de uma cidade homônima, situada no estado de
Washington, nos Estados Unidos. A letra da música fala de tédio e preguiça,
assuntos tão comuns na vida de qualquer garoto adolescente. O destaque fica
para a linha de baixo de Mike Dirnt nas estrofes da música, antes da explosão
dos refrãos.
“Welcome To
Paradise” foi originalmente gravada no segundo álbum da banda, mas ganhou uma
nova e definitiva versão em Dookie. O som é um punk rock básico,
com vocais harmônicos e um baixo em ritmo frenético. A letra versa sobre o
jovem que deixa a casa dos pais e sai para o mundo, indo morar sozinho ou
dividir um lar com outras pessoas. Foi inspirada nas próprias experiências dos
membros da banda que deixaram as casas de seus pais para dividirem uma casa
abandonada, em Oakland.
“Putting
Teeth” tem uma inclinação para a country music, vocais em primeira e segunda
vozes, e guitarras vibrantes e pesadas. Armstrong canta sobre uma garota
possessiva e violenta que espanca o namorado. “Basket Case”, outro dos grandes
sucessos presentes no álbum, teria sido inspirada num problema que o próprio
Armstrong estava passando que era o transtorno do pânico. “She” foi escrita por
Armstrong inspirado num poema feminista mostrado a ele por uma ex-namorada.
Assim como “She”, “Sassafras Roots” também é uma música sobre essa mesma ex-namorada.
Já a faixa
seguinte, “When I Come Around”, teria sido escrita por Armstrong para a sua
esposa, Adrienne Armstrong, quando ainda eram namorados. A letra aborda a fase
em que o casal teria passado por um rompimento. Armstrong e Adrienne viveram um
tempo afastados, mas acabariam voltando.
“Coming Clean”
é outra música do álbum que diz respeito à vida pessoal de Billie Joe Armstrong.
Ela faz referência a uma fase da adolescência do vocalista quando ele se
descobriu bissexual, embora não tivesse passado por uma experiência sexual com
um homem.
“Emenius
Sleepus” é a única música do álbum que não foi escrita por Billie Joe Armstrong. Escrita
pelo baixista Mike Dirnt, “Emenius Sleepus” trata do reencontro de dois amigos
após muitos anos, mas que o longo tempo afastados mostrou que os dois não tinham
mais nada a ver um com outro como no passado. “In The End” é um punk rock que
Armstrong escreveu sobre o seu padrasto; a julgar pela letra, o vocalista do
Green Day não tinha o menor apreço pelo sujeito: “How long will he last / Before he's a creep in the past / And you're
alone once again?” (“Quanto ele
durará / Antes de ele se tornar um merda / E você ficar sozinha de novo?”).
O título de “F.O.D.”
é a abreviação de “Fuck Off and Die” (“Foda-se e morra). Seu começo é acústico,
com Armstrong cantando acompanhado de um violão. Mais adiante, uma massa sonora
elétrica, pesada e veloz, rompe a tranquilidade. A letra mostra-se como um
desabafo de alguém revoltado, disposto a dar a fim em todo mundo.
Billie Joe Armstrong em cena do videoclipe de "Longview". |
A lista de faixas
do disco apresenta “F.O.D.” como última faixa do álbum. Mas quem ouve o álbum
pela primeira vez descobre que há uma “faixa oculta”: “All By Myself”. Escrita
pelo baterista Tré Cool, é ele mesmo quem canta os versos da letra que sutilmente
fala de masturbação e encerra em definitivo o álbum.
Enquanto os
punks veteranos torceram o nariz para Dookie, a crítica e o público
aclamaram o álbum. Na época de lançamento de Dookie, a revista Time declarou Dookie o 3º melhor álbum
do ano e melhor álbum de rock de 1994. O New
York Times, no início de 1995, afirmou que o som de Dookie transformou o punk
em pop através de músicas rápidas, engraçadas e cativantes.
Comercialmente,
Dookie
teve um desempenho fantástico para um álbum punk, ainda que com um viés pop. Só
nos Estados Unidos, o álbum vendeu mais de 12 milhões de cópias, e no resto do
planeta, chegou à incrível marca de 30 milhões de cópias vendidas. Dookie
conquistou o prêmio Grammy em 1995 na categoria “Melhor Álbum Alternativo”.
Os videoclipes
de “Longview”, “Welcome To Paradise”, “Basket Case” e “When I Come Around”
exibidos à exaustão na MTV, ajudaram a impulsionar as vendas do álbum. Os
singles de “When I Come Around”, “Basket Case” e “Longview”, figuraram em
primeiro lugar da parada de singles nos Estados Unidos, enquanto que o de “She”
e de “Welcome To Paradise”, ficaram respectivamente em 5º e 7º lugares.
Ao lado do
álbum Smash, do Offspring, também lançado em 1994, Dookie
possibilitou com o seu sucesso comercial o renascimento do punk, desta vez
dirigido para as grandes massas. Dookie acabaria se tornando uma
grande influência para uma nova geração de bandas de pop punk que conquistariam
fama na década seguinte, como Good Charlotte, Simple Plan, Sum 41, New Found
Glory e Yellowcard.
Faixas
Todas as
letras escritas por Billie Joe Armstrong , exceto onde indicado; todas as
músicas compostas pelo Green Day .
"Burnout"
"Having a Blast"
"Chump"
"Longview"
"Welcome to Paradise"
"Pulling Teeth"
"Basket Case"
"She"
"Sassafras Roots"
"When I Come Around"
"Coming Clean"
"Emenius Sleepus" (letra:
Mike Dirnt)
"In the End"
"F.O.D."
"All by Myself" (“faixa
oculta” escrita e tocada por Tré Cool)
Green Day: Billie
Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo e vocal de apoio) e Tré
Cool (bateria, guitarra e vocal em “All by Myself”).
Referências:
Revista Bizz –
julho/1994 – Edição 108 – Editora Abril
Revista Bizz –
abril/1995 – Edição 117 – Editora Abril
Wikipedia
"Burnout"
"Having a Blast"
"Chump"
"Longview" (videoclipe oficial)
"Welcome to Paradise"
(videoclipe oficial)
"Pulling Teeth"
"Basket Case"
(videoclipe oficial)
"She"
"Sassafras Roots"
"When I Come Around"
(videoclipe oficial)
"Coming Clean"
"Emenius Sleepus"
(letra: Mike Dirnt)
"In the End"
"F.O.D."
"All by Myself"
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