“Tim Maia Disco Club” (Warner, 1978), Tim Maia
Após
desiludir-se com a seita Universo em Desencanto, onde estava afastado das
drogas e do álcool, e até gravou dois álbuns que traziam nas canções toda a
filosofia da Cultura Racional pregada pela representação religiosa, Tim Maia
(1942-1998) estava de volta à vida mundana em 1976. Para retomar a carreira,
Tim tomou uma atitude talvez não muito aconselhada para quem andou sumido dos
holofotes do sucesso: lançou um disco em inglês, e de forma independente. Seria
uma boa ideia se a intenção fosse o mercado internacional, mas não foi o caso.
O resultado foi que o álbum em inglês, que levava o nome do cantor, foi um
tremendo fracasso em vendas.
No mesmo ano
de 1976, Tim Maia assinou contrato com a gravadora PolyGram, e lançou um álbum
autointitulado, cuja faixa de maior destaque foi “Rodésia”, música inspirada no
país de mesmo nome que passava por grandes conflitos internos na década de
1970, e que culminariam na consolidação de sua independência perante o Reino
Unido, em 1979, quando a ex-colônia britânica passou a se chamar República do
Zimbabwe. Apesar da boa canção, o álbum teve uma repercussão muito modesta. Em
1977, desta vez pela Som Livre, Tim Maia lançou mais um álbum, e que repercutiu
também muito pouco comercialmente.
Em 1978, Tim
estava em mais uma gravadora diferente, a norte-americana Warner, então
recém-instalada no Brasil, tendo como presidente André Midani. Para o novo
álbum, Tim decidiu explorar a sonoridade da disco music, que na época estava em
pleno auge em todo o mundo. Tim enxergava na disco music parentesco com o funk
e a soul music, o que evidentemente era uma verdade. Para essa empreitada e
buscando gravar um álbum que não repetisse a performance dos dois álbuns
anteriores, Tim escalou um time de músicos de alto nível e teve todo um cuidado
na seleção de repertório.
A banda que
acompanhou Tim foi a Banda Black Rio, grande sensação da música negra
brasileira naquele momento. Dentre os convidados, estavam o amigo Hyldon,
cantor que ficou famoso com a canção “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de
Sapê)”, em 1975, e o guitarrista Pepeu Gomes, que na época havia deixado os
Novos Baianos e partiu para a carreira solo, o arranjador e tecladista Lincoln
Olivetti (1954-2015), e o multi-instrumentista Robson Jorge (1954-1992).
Os arranjos
do álbum se dividiram entre o maestro uruguaio Miguel Cidras (1937-2008) e o
próprio Lincoln Olivetti. Mas a presença de Olivetti no álbum se deveu a uma
confusão protagonizada por Tim Maia no começo das gravações do álbum. Tim
mostrava-se insatisfeito com os arranjos criados por Cidras e queixou-se com o
produtor Guti Carvalho, falando alto, xingando o maestro uruguaio, e exigia que
Olivetti fosse o arranjador. O que Tim não sabia, é que Guti, sem querer,
esqueceu o microfone aberto. Do outro lado do estúdio, Cidras ouviu os
xingamentos de Tim à sua pessoa. Furioso, Cidras não pensou duas vezes e foi
até o local em que Tim estava para tirar satisfações. O caos se instalou no
estúdio. Acalmado os ânimos, Lincoln Olivetti foi convidado para escrever os
arranjos de cinco das dez faixas do novo álbum.
Intitulado Tim
Maia Disco Club, o álbum já apresentava na sua capa e contracapa, a
proposta do novo trabalho de Tim. A arte da capa foi toda concebida na estética
da disco music, trazendo um globo espelhado, luzes e letreiros em neon, que
remetiam às casas noturnas que tocavam música disco, chamadas na época de discotecas.
Tim Maia Disco Club começa com uma incrível sequência de
músicas dançantes para não deixar ninguém parado numa pista de dança. “A Fim De
Voltar” é uma típica disco music, e traz vocais femininos com vozes bem agudas
acompanhando Tim Maia no refrão. Um belo naipe de cordas percorre toda a
música. Em seguida, “Acende O Farol” mantém o ritmo disco lá em cima, com um
baixo pulsante, e os naipes de cordas e de metais alternando o protagonismo na
base instrumental.
“Sossego” é
um funk que desacelera um pouco o ritmo da sequência, mas seu balanço dançante
é irresistível, é capaz de fazer até um poste se mexer. A letra trata do
sujeito que quer boa vida e nada de trabalho só, sossego. Uma curiosidade de
“Sossego” é que sua base instrumental é parecidíssima com a de “Boot-Leg”, uma
música instrumental do grupo norte-americano Booker T & The MG’s, lança
como single em 1965.
“Vitória
Régia Estou Contigo e Não Abro” é uma faixa instrumental em ritmo disco e
extremamente dançante. A faixa é uma oportunidade para o ouvinte perceber as
habilidades e a qualidade dos músicos que acompanharam Tim Maia na gravação Tim
Maia Disco Club. A bateria é veloz e mantém a levada “bate-estaca”
típica da disco music. O piano elétrico pontua toda a música, o baixo é
vigoroso e o naipe de metais assume a linha de frente.
Fechando o
lado A da versão LP de Tim Maia Disco Club, “All I Want”,
uma balada soul cantada em inglês. Os arranjos preparados por Lincoln Olivetti
são tão impecáveis que certamente estava no mesmo nível ao que se fazia nesse
seguimento musical nos Estados Unidos. Os vocais de apoio ganham um destaque
que dão a impressão ao ouvinte de que o vocal de Tim é apenas coadjuvante.
O lado B
começa com o romantismo da balada “Murmúrio”, onde os vocais de Tim Maia e os
vocais de apoio se alternam ao cantarem os versos da canção. “Pais E Filhos”,
canção de Arnaud Rodrigues e Renato Piau, trata de maneira bonita e singela o
amor que um pai tem pelo seu filho.
“Se Me
Lembro Faz Doer” é uma balada romântica sobre um homem que após sofrer por
amor, decide mudar o rumo de sua vida e esquecer a pessoa que tanto amou. A
canção lembra de maneira sutil “Primavera”, um dos primeiros sucessos da
carreira de Tim Maia. Após o romantismo sofrido de “Se Me Lembro Faz Doer”, vem
“Juras”, mais uma balada romântica, mas com leves traços dançantes de disco
music.
Encerrando o
álbum, o balanço discreto de “Jhony”. A letra trata de um jovem que dá nome à
música, e que desde criança sonhava ser um jogador de futebol. Mesmo tendo
crescido, cursado a universidade e se formado doutor, a paixão do jovem pelo
futebol persistiu. Destaque para o solo de guitarra de Pepeu Gomes, que na
época havia recém deixado os Novos Baiano para seguir carreira solo.
Com Tim
Maia Disco Club, Tim Maia voltou às paradas de sucesso e recuperou o prestígio.
“A Fim De Voltar” e “Acenda O Farol”, foram bastante executadas em rádio. No
entanto, o maior sucesso do álbum foi “Sossego”, uma das músicas mais
executadas no Brasil em 1978. “Sossego” foi incluída na trilha sonora da
telenovela Pecado Rasgado, da TV
Globo, em 1978. O sucesso do álbum fez Tim voltar a lotar os seus shows, como o
que ele fez num baile de black music no ginásio do Palmeiras, em São Paulo,
para um público estimado em 10 mil pessoas.
Todas as canções de autoria de Tim Maia,
exceto as indicadas.
Faixas
Lado A
- “A Fim De Voltar” (Hyldon - Tim Maia)
- “Acenda O Farol”
- “Sossego”
- “Vitória Régia Estou Contigo E Não Abro”
- “All I Want”
- “Murmúrio” (Cassiano)
- “Pais E Filhos” (Piau - Arnaud Rodrigues)
- “Se Me Lembro Faz Doer”
- “Juras”
- “Jhony"
Referências:
Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia – Nelson Motta, 2007, Editora Objetiva
Wikipedia
Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia – Nelson Motta, 2007, Editora Objetiva
Wikipedia
“A Fim De Voltar”
“Acenda O Farol”
“Sossego”
“Vitória Régia Estou Contigo E Não Abro”
All I Want”
“Murmúrio”
“Pais E Filhos”
"Se Me Lembro Faz Doer”
“Juras”
"Jhony"
discãooo esse ! <3
ResponderExcluirUma curiosidade, esse álbum foi relançado em 1991 com nome "Sossego", muito provavelmente uma jogada comercial da gravadora para relançar em CD com uma roupagem mais adequada aos novos tempos já que a disco music já encontrava-se "sepultada" como cultura pop.
ResponderExcluirÉ verdade, Rafael. Já vi o vinil desse relançamento. Troço estranho. Repertório é o mesmo, a gravadora é a mesma (Warner), mas a capa e contracapa completamente diferentes do original. E essa capa original é horrível, muito "genérica". Um troço desnecessário, sem sentido. No final das contas, depois, disso, houve novas reedições de "Tim Maia - Disco Club" com a capa original, tanto em CD como em LP.
ExcluirA capa original é essa da matéria.
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