“The Stone Roses” (Silvertone, 1989), The Stone Roses




Por Sidney Falcão


No final dos anos 1980, a cidade de Manchester via surgir uma nova safra de bandas que transformaria a cena musical daquela cidade. Se por muito tempo, Manchester viveu sob os tons acinzentados do pós-punk, com o surgimento do movimento “Madchester”, aquela cidade se tornava mais alegre, colorida e festiva. O movimento, cujo nome fazia um trocadilho de “Mad” (“louco”, em português) com o nome da cidade, ficou caracterizado por bandas que faziam uma mistura de rock alternativo com dance music e psicodelismo dos anos 1960. A casa noturna Haçienda, fundada pela banda New Order (que era também de Manchester, mas que surgiu no começo dos anos 1980), era o ponto de encontro de jovens que iam ao local para se divertirem varando a madrugada, dançando ao som de bandas e DJ, e “turbinados” por álcool e drogas da moda como o ecstasy.

A cena do “Madchester” revelou várias bandas que dariam um novo rumo ao rock inglês na virada dos anos 1980 para os anos 1990 como Happy Mondays, Inspiral Carpets, The Charlatans entre outras. Contudo, nenhuma delas experimentou uma popularidade e uma ascensão meteórica como a banda Stone Roses. Em pouco tempo, a fama dos Stones Roses ultrapassou a cena roqueira de Manchester alcançou todo o Reino Unido, conquistando a imprensa musical e o público britânicos. Não demoraria muito, e a fama dos Stones Roses chegaria aos Estados Unidos, a “meca” da música pop mundial.

Os Stone Roses nasceram em Manchester, em 1983, a partir da ideia saída da cabeça de Ian Brown (vocais e percussão) e de John Squire (guitarra e vocais de apoio). Após a troca de alguns músicos, a banda conseguiu fixar-se a partir de 1987 com a formação que incluía, além de Brown e Squire, o baixista Rob Hampson e o baterista Alan “Reni” Wren.

The Stone Roses em 1989, da esquerda para a direita: Gary "Mani" Mounfield, John Squire,
Ian Brow e  Alan"Reni" Wren. 

A banda, que já contava com dois singles no currículo, assinou um contrato com a gravadora  Zomba, no início de 1988. Porém, ficou acordado que os lançamentos do trabalho da banda sairiam pela Sivertone Records, uma subsidiária da Zomba. Logo já estavam em estúdio gravando o primeiro single, “Elephant Stone”, produzido por Peter Hook, baixista do New Order e que foi lançado em outubro de 1988. Entre junho de 1988 e fevereiro de 1989, os Stone Roses gravaram material para o primeiro álbum, sob a produção de John Leckie, profissional experiente e que já havia sido engenheiro de som do Pink Floyd nos anos 1970 na gravação dos The Dark Side Of The Moon e Wish You Were Here.

Paralelo ao período de gravação do primeiro álbum, os Stone Roses agitavam a cena musical da Manchester do final dos anos 1990 firmando-se como uma das bandas mais destacadas. Em fevereiro de 1989, sai o single de “Made Of Stone”.

Finalmente, em 2 de maio de 1989, o primeiro e homônimo álbum Stone Roses foi lançado, porém não desertou muito o interesse do grande público e da imprensa, exceto a Melody Maker e NME (New Music Express), que já vinham publicando matérias sobre a nova cena musical de Manchester naquele momento. A arte da capa do álbum do guitarrista John Squire, que também tinha habilidades para pintura. Squire foi também o criador das artes das capas dos singles dos Stones Roses. A pintura da capa do álbum de estreia da banda foi inspirada na arte do pintor expressionista abstrato norte-americano Jackson Pollock (1912-1956). Quanto aos limões, seriam uma referência aos protestos em Paris, em maio de 1968, quando os estudantes revoltosos costumavam chupar limões para suportar os efeitos do gás lacrimogênio da polícia francesa.

Público na casa noturna Haçienda, em julho de 1988, em foto da NME, publicação inglesa que
foi uma das primeiras da área musical a identificar o fenômeno "Madchester".

The Stone Roses, o álbum, musicalmente é uma combinação de várias referências. É possível identificar referências de Beatles e Byrds, safra 1966/1967, The Who, experimentalismo psicodélico dos anos 1960, e The Smiths, estes últimos, ilustres conterrâneos de Manchester e que haviam chegado ao fim 1987.
“I Wanna Be Adored” é quem abre o álbum. Começa com uma introdução ruidosa e longa num volume quase inaudível, mas que vai aumentando gradativamente até ceder lugar a uma linha de baixo executada por Gary “Mani” Mounfield. O título da música reflete bem o espírito autossuficiente que os Stone Roses sempre fizeram questão demonstrar.

A faixa seguinte, “She Bangs The Drums” é um pop rock contagiante, poderoso, radiofônico, agradável de se ouvir. Traz guitarras melódicas bem ao estilo da tradição das “guitar bands” inglesas dos anos 1960, porém traduzidas para os anos 1980.

“Waterfall” é outra faixa do álbum que carrega os referenciais do pop rock inglês dos anos 1960. Possui boas harmonizações vocais e uma bateria vibrante. Em seguida vem “Don’t Stop”, que nada mais é do que a versão em rotação inversa da base instrumental de “Waterfall”, acrescida de efeitos e colagens sonoras que dão à faixa todo uma sonoridade psicodélica.

A atmosfera psicodélica prossegue em “Bye Bye Badman”, cujo refrão tem um ritmo agitado e numa levada que se aproxima do folk e do country rock, só de uma forma bem enxuta, estilizada.

“Elizabeth My Dear” é faixa mais curta do álbum, e mais parece uma vinheta. Tem apenas voz e violão, e sua melodia faz o ouvinte mais atento lembrar de “Scarborough Fair”, uma antiga balada folk do antigo cancioneiro inglês, e que já foi gravada por vários artistas como a dupla Simon & Garfunkel, Sarah Brightman e o Queensrÿche.

“ (Song For My) Sugar Spun Sister” é talvez a faixa do álbum que mais carrega na sua essência a herança melódica do folk rock dos anos 1960 praticado por bandas como os Byrds. A tradição das guitar bands britânicas dos 1960 prossegue na faixa seguinte, “Made Of Stone”, com suas guitarras e vocais cheios de efeitos.

Os Stone Roses em capas da NME e Melody Maker: grande sensação do rock inglês no final dos anos 1980.

A calmaria e a bateria sutilmente jazzística dão o tom em “Shoot You Down”, enquanto que as guitarras melódicas e as harmonizações vocais caracterizam “This Is The One”.

Encerrando o álbum, “I Am The Resurrection”, a mais longa faixa do álbum, com seus pouco mais de oito minutos. A música é praticamente dividida em duas. Se a primeira metade é bem ao estilo das bandas dos anos 1960 como os Byrds, a segunda metade da faixa segue um longo caminho instrumental, assumindo um ritmo mais dançante, com uma bateria percussiva e guitarra funky dotada de efeitos.

Após uma apresentação no programa de TV de grande audiência em todo o Reino Unido na época, o Top Of The Pop, em novembro de 1989, os Stone Roses passaram a ser notados pelo grande público, ajudando a impulsionar as vendas do álbum de estreia da banda. O sucesso do álbum contribuiu também para a divulgação do movimento Madchester, arrastando outras bandas para o cenário musical britânico, e olhares da imprensa musical do Reino Unido - e depois do mundo - se voltariam para a Manchester.

Em pouco tempo, de banda alternativa de Manchester, os Stone Roses passaram a maior sensação do rock britânico do final dos anos 1980, o “futuro do rock’n’roll”. A fama dos Stone Roses ganhou o mundo. A revista norte-americana Rolling Stone afirmara que o álbum de estreia dos Stone Roses já era um dos melhores lançamentos de 1989, e o ano nem havia terminado. Comungando da mesma opinião as inglesas NME e Melody Maker, que certamente, por já conhecerem a cena de Manchester, não ficaram surpresas com o potencial do álbum. Ainda em 1989, Os Stone Roses se apresentaram no Canadá e Japão, e em maio de 1990 se apresentaram pela primeira vez nos Estados Unidos.

Assim como a fama dos Stone Roses crescia, a prepotência e arrogância da banda também cresciam. Numa entrevista para a NME, Ian Brown chegou a dizer que os Stone Roses eram a banda mais importante do mundo. Cheios de si, recusaram o convite para abrir um show dos Rolling Stones no Canadá. Para a mesma NME, quando disseram que haviam perdido uma grande oportunidade, Ian Brown disse que eram os Rolling Stone que deveriam abrir um show para os Stone Roses.

Guitarrista e pintor: John Squire em 2011, durante a sua exposição "Celebrity", em Londres.

Em 1990, começaram os conflitos entre os Stone Roses e o selo Silvertone Records por causa de pagamento. Os desentendimentos acabariam fazendo a banda assinar um contrato com a gigante Geffen Records, num valor de 40 milhões de dólares, em 1991. Uma batalha judicial entre a Silvertone e Geffen se arrastou, chegando a atrapalhar o lançamento do segundo álbum da banda, Second Coming, que só aconteceu em 1994. Lançado pela Geffen, Second Coming foi bastante aguardado pelos fãs, mas quando chegou às lojas, foi duramente criticado pela imprensa. Além disso, o cenário musical britânico era outro: a onda Madchester havia passado, o que estava em voga era ascensão do Britpop, que revelaria ao mundo uma nova geração de bandas britânicas capitaneada pelo Oasis (banda originária de Manchester, assim como os Stone Roses), e que de uma certa forma, foram influenciadas pelo primeiro álbum dos Stone Roses.

Daí em diante, a banda entrou em decadência, passou por um processo de trocas de integrantes, em 1996, a banda anunciou a sua dissolução.

Em 2011, a banda retornou com sua formação clássica, fizeram uma turnê mundial no ano seguinte. Lançaram dois singles em 2016, “All For One” e “Beautiful Thing”, e em 2017, fizeram uma pequena turnê. Depois disso, pouco se sabe do futuro da banda, se encerrou novamente ou se está “hibernando”.

Faixas

"I Wanna Be Adored"
"She Bangs The Drums"        
"Waterfall"    
"Don't Stop"
"Bye Bye Badman"
"Elizabeth My Dear"  
"(Song For My) Sugar Spun Sister"   
"Made Of Stone"       
"Shoot You Down"
"This Is The One"
"I Am The Resurrection"

The Stone Roses: Ian Brown (vocais), John Squire (guitarra e vocais de apoio), Gary "Mani" Mounfield (baixo) e Alan"Reni" Wren (bateria, vocais de apoio e piano em “She Bangs The Dream”).

Referências:
Revista Bizz – março/1990 - Edição 56
Revista Bizz – abril/1990 - Edição 57
Revista Bizz – agosto/1991 - Edição 73
Revista Bizz – abril de 2006 - Edição 200
www.classicrockreview.com
www.facebook.com/sidney.falcao.5
discosessenciais.blogspot.com




Ouça na íntegra o álbum The Stone Roses



"I Wanna Be Adored" (videoclipe original)




"She Bangs The Drums" (videoclipe original)




"Waterfall" (videoclipe original)



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