“Breakfast In America” (A&M, 1979), Supertramp



Por Sidney Falcão

Quando foi fundada em 1969, em Londres, Inglaterra, o Supertramp começou a sua trajetória musical como uma banda de rock progressivo. Apesar do gênero musical estar em ascensão na época, os dois primeiros álbuns da banda foram verdadeiros fracassos comerciais. A situação só começou a melhorar para o Supertramp a partir do terceiro álbum, Crime Of The Century, de 1974, que trouxe o primeiro grande sucesso do quinteto, “Dreamer”, canção que fez a banda estourar nos Estados Unidos.

Daí em diante, o grupo segue num caminho ascendente e passa por um processo de transformação na sua linha musical. A banda aos poucos vai deixando o rock progressivo e se aproxima de uma proposta musical mais voltada ao pop, sem, no entanto, abrir mão dos arranjos elaborados. Seguiram-se os álbuns Crisis? What Crisis? (1975) e Even In The Quietest Moments (1977). Em Even In The Quietest Moments, o folk rock “Give A Little Bit”, outro grande sucesso do Supertramp, ajudou a impulsionar as vendas do álbum. O sucesso de Even In The Quietest Moments fez com que a banda deixasse Londres e se mudasse para os Estados Unidos, fixando residência em Los Angeles, cidade onde o Supertramp já vinha gravando seus álbuns desde Crisis? What Crisis?.

Supertramp, da esquerda para a direita: Doug Tomson, Bob Siebenberg, John Helliwell,
Roger Hodgson e Rick Davies.


Mas a consagração do Supertramp veio com o seu sexto álbum, Breakfast In America, álbum onde a banda inglesa consolidaria a sua orientação para o seguimento mais pop e acessível musicalmente. A princípio, o álbum teria uma abordagem conceitual centrada no conflito de personalidades entre Rick Davies e Roger Hodgson, os dois principais membros do Supertramp. Porém, a ideia foi logo rechaçada pelos demais membros do grupo que optaram por um repertório com canções alegres e divertidas. O álbum teve como título provisório Hello Stranger (Olá, Estranho, em português), mas Davies foi convencido por Hodgson para trocar por Breakfast In America.

Sob a produção de Peter Henderson e Supertramp, Breakfast In America foi gravado nos estúdios da The Village Recorder, em Los Angeles, nos Estados Unidos, entre maio e dezembro de 1978.

A arte da capa ficou a cargo do designer gráfico Mike Doud. Na capa, se vê a cidade de Nova York vista da janela de um avião. Só que ao invés de uma Nova York real, a capa apresenta a cidade com prédios feitos de caixas de cereais, talheres, garrafas de catchup, caixas de ovos, mostarda e demais embalagens, tudo pintado de branco. Em primeiro plano, a atriz Kate Murtagh (1920-2017) vestida como uma simpática garçonete imitando a Estátua da Liberdade, segurando um copo de suco de laranja ao invés da tocha, e na outra mão, um cardápio de lanchonete. A contracapa traz uma foto com os membros da banda tomando café da manhã e lendo jornais numa lanchonete. 

A simpática atriz Kate Murtagh, em 2010, exibindo a capa 
de Breakfast In America: é ela a garçonete imitando
a Estátua da Liberdade na foto da capa.


“Gone Hollywood” é a faixa que abre Breakfast In America. Começa com um som de piano num volume baixo, mas que vai aumentando gradativamente até entrarem os instrumentos e as vozes de Rick Davies e Roger Hodgson. A letra da música conta a história de alguém que se muda para Hollywood para realizar o sonho de ser uma estrela de cinema, mas que acaba se frustrando. Destaques para o saxofone de John Helliwell.

A faixa seguinte, “The Logical Song”, é um dos maiores sucessos do Supertramp, e possui uma das letras mais inteligentes do quinteto inglês. Composta e cantada por Roger Hodgson, a canção trata sobre a perda da ingenuidade e pureza de vermos o mundo quando éramos crianças e de como essa visão se tornou racional e fria depois que nos tornamos adultos. “The Logical Song” possui uma linha melódica agradável aos ouvidos, e traz um belo desafio do baixo de Doug Thompson com o saxofone de John Helliwell na reta final da música.

Instrumento que se tornou uma das características marcantes no som do Supertramp, o piano elétrico Wurlitzer executado por Roger Hodgson, faz a introdução de “Goodbye Stranger”. Rick Davies faz o vocal principal, enquanto que Hodgson e Helliwell fazem os vocais de apoio. Há quem afirme que a letra da música fala sobre um jovem que passou uma noite com duas prostitutas, e que ele se despede delas logo que o dia amanhece. A música termina num ritmo empolgante, onde se destaca o solo de guitarra executado por Hodgson, instrumento que ele também domina, além dos teclados.

O piano elétrico Wurlitzer 200A, instrumento cuja sonoridade se tronou a marca registrada do som do Supertramp.


“Breakfast In America” é uma canção antiga composta por Roger Hodgson quando ainda era adolescente, e é ela que dá nome ao álbum. Conta a história de um jovem que pede para alguém tomar conta de sua namorada, enquanto ele parte para os Estados Unidos para realizar o sonho de conhecer aquele país, ver as garotas da Califórnia e comer salmão no café da manhã. Em 2005, “Breakfast In America” ganhou uma versão rap do grupo Gym Class Heroes, e um novo título, “Cupid’s Chokehold”.

A romântica “Oh Darling” fecha o lado A do álbum na versão LP. Trata sobre um homem apaixonado que faz de tudo para não ver a mulher que ama ir embora. A canção traz Rick Davies no vocal principal. 

Detalhe da foto da contracapa de Breakfast In America.


O lado B começa com um grande sucesso do Supertramp, “Take The Long Way Home”. Após um breve silêncio, seguido por acordes de piano num volume muito baixo, um solo de gaita de Rick Davies se faz presente de maneira imponente. “Take The Long Way Home” faz uma reflexão sobre o ser humano conhecer a si mesmo, fazer um autoconhecimento.

“Lord Is It Mine” é bela e ao mesmo tempo melancólica. A canção possui ares de oração, onde Hodgson parece conversar com o Senhor, manifestando as suas dúvidas e angústias diante de um mundo tão conturbado. Após uma canção tão introspectiva, segue “Just "Another Nervous Wreck”, um pop rock com Rick Davies do vocal principal e Roger Hodgson nos solos de guitarra.

“Casual Conversations” é uma balada sobre fim de uma relação conjugal. Mas ao contrário do que o tema sugere, a canção não é triste. É calma, relaxante, e possui um toque jazzístico graças ao saxofone elegante de Helliwell, que garante leveza e sofisticação à canção. Rick Davies é quem canta e executa o piano elétrico Wurlitzer.

Roger Hodgson e o produtor Peter Henderson durante as sessões de gravação de Breakfast In America.


Finalizando Breakfast In America, a faixa mais longa do álbum, “Child Of Vision”. Com pouco mais de sete minutos de duração, “Child Of Vision” possui sua primeira parte cantada, e a partir da metade para o fim, a música segue totalmente instrumental, onde a banda mostra o potencial musical dos seus integrantes. Rick Davies faz um longo solo de piano acompanhado pelos seus companheiros de banda até que na reta final da faixa, John Helliwell assume o protagonismo com o seu saxofone.

Através de um conjunto de canções de apelo pop, melodicamente agradáveis e contagiantes, Breakfast In America levou o Supertramp ao topo das paradas de sucesso e de vendagens de discos. O álbum foi um sucesso comercial indiscutível. Alcançou o 1º lugar da Billboard 200, nos Estados Unidos, permanecendo no posto por seis semanas. No Reino Unido, o álbum foi 3º lugar. Vendeu 18 milhões de cópias em todo o mundo, sendo 6 milhões somente nos Estados Unidos.

Breakfast In America gerou quatro singles que também tiveram bons desempenhos comerciais: “The Logical Song” (6º lugar nos Estados Unidos e 7º lugar no Reino Unido), “Goodbye Stranger” (15º lugar nos Estados Unidos, 57º lugar no Reino Unido), “Take The Long Way Home” (10º lugar nos Estados Unidos) e “Breakfast In America” (9º lugar no Reino Unido).

O Supertramp partiu para uma turnê mundial com 120 shows, em estádios e arenas lotados. A apresentação da banda em Paris, na França, foi gravada ao vivo em 29 de novembro de 1979, e lançada como o álbum duplo Paris, em setembro de 1980. O álbum duplo gravado ao vivo foi 1º lugar nos Estados Unidos e Reino Unido.

Supertramp em show em Paris, durante a turnê do álbum Breakfast In America, novembro de 1979. 


Em 1982, o Supertramp lançou o sucessor de Breakfast In America, ...Famous Last Words..., sétimo álbum de estúdio do Supertramp, que emplacou dois grandes hits, “It’s Raining Again” e “My Kind Of Lady”. Em 1983, durante a turnê de ...Famous Last Words..., Roger Hodgson anunciou que estava deixando o Supertramp para seguir carreira solo. A banda seguiu em frente, mas a magia já havia acabado. Nem o Supertramp faria mais grandes álbuns, e nem Roger Hodgson faria uma carreira solo tão destacada quanto a sua trajetória nos áureos tempos da sua antiga banda.

Faixas

Lado A
  1. "Gone Hollywood" (Rick Davies)
  2. "The Logical Song" (Roger Hodgson)
  3. "Goodbye Stranger" (Rick Davies)
  4. "Breakfast in America" (Roger Hodgson)
  5. "Oh Darling" (Rick Davies) 

Lado B
  1. "Take The Long Way Home" (Roger Hodgson)
  2. "Lord Is It Mine" (Roger Hodgson)
  3. "Just Another Nervous Wreck" (Rick Davies)
  4. "Casual Conversations" (Rick Davies)
  5. "Child of Vision" (Roger Hodgson)


Supertramp: Rick Davies (piano, piano elétrico, vocais e gaita), Roger Hodgson (guitarras, violão de 12 cordas, piano, piano elétrico e vocais), John Helliwell (saxofone, clarinete, assobio e vocais), Dougie Thomson (baixo) e Bob Siebenberg ( bateria e percussão).


"Gone Hollywood" 


"The Logical Song"


"Goddbye Stranger"


"Breakfast In America"


"Oh Darling"


"Take The long Way Home"


"Lord Is It Mine"


"Just Another Nervous Wreck"


"Casual Conversation"


"Child Of Vision"


"The Logical Song" (Videoclipe original)


"Goodbye Stranger"  (Videoclipe original)





Comentários

  1. Excelente resenha em homenagem aos 40 anos de lançamento deste que é, sem dúvidas, um dos melhores discos de todos os tempos e estilos na história da música. Com certeza um dos meus vários preferidos álbuns de sempre. Viva o Supertramp!

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