“Led Zeppelin” (Atlantic, 1969), Led Zeppelin
Quando a
banda inglesa The Yardbirds chegou ao fim em julho de 1968, o guitarrista Jimmy
Page e o baixista Chris Dreja herdaram um problema: cumprir o compromisso de
shows na Escandinávia que já estavam agendados antes da banda acabar. Com a
saída do vocalista Keith Relf (1943-1976) e do baterista Jim McCarty que acabou
pondo fim aos Yardbirds, Page, Dreja e o empresário dos Yardbirds, Peter Grant
(1935-1995), partiram em busca de substitutos para honrar os compromissos
através de um novo projeto: The New Yardbirds. Page aproveitou a oportunidade e
decidiu pôr em prática no novo projeto, o desejo de formar uma banda com uma
sonoridade mais pesada, experiência essa que ele já vinha desenvolvendo na reta
final da existência dos Yardbirds.
Para novo
vocalista, pensaram no cantor Terry Reid, mas como já tinha o compromisso de
abrir a turnê dos Rolling Stones e de uma turnê do Cream, Reid indicou um amigo
seu, Robert Plant, que na época era vocalista da Band Of Joy, banda que atuava
na região próxima à Birmingham, Inglaterra. Plant aceitou e indicou para
baterista um amigo seu, John Bonham, que havia tocado na Band Of Joy, mas que
naquele momento era baterista da banda do cantor de folk rock Tim Rose.
Ao mesmo
tempo em que fechavam contato com um novo vocalista e um novo baterista, Chris Dreja
anunciava que estava deixando o novo projeto para abraçar a carreira de
fotógrafo. Com essa nova baixa, Page convidou o baixista John Paul Jones,
músico que já havia trabalhado com ele em sessões de gravações de discos de outros
artistas para ocupar o lugar de Dreja. Incentivado por sua esposa, Jones
aceitou o convite de Jimmy Page.
The Yardbirds em sua última formação antes de acabar em 1968, da esquerda para a direita: Jim McCarty, Chris Dreja, Keith Relf e Jimmy Page. |
Em setembro
de 1968, os New Yardbirds partiram para a turnê na Escandinávia para cumprir a
agenda pendente de shows da antiga banda. O nome da banda foi liberado por
Chris Dreja (um dos membros fundadores dos Yardbirds) apenas para a turnê na
Escandinávia. Após a turnê, teriam de criar um nome novo.
De volta a
Londres em meados de setembro, o quarteto entra no Olympic Studios para gravar material
para o primeiro álbum. As despesas das gravações foram bancadas por Jimmy Page
e Peter Grant que chegaram ao valor de 1.700 libras. Page assumiu a produção e
contou com Glyn Johns na engenharia de som. A banda gravou o material antes
mesmo de ter assinado contrato com qualquer gravadora. O fato de não ter ainda
uma gravadora, Page teve toda a liberdade na produção, sem sofrer qualquer tipo
de pressão ou interferência de executivos de gravadora. Page usou sua
experiência de ter trabalhado em estúdio para produzir o álbum da maneira como
imaginava. Todo o processo de gravação durou 36 horas, em duas semanas no
estúdio.
No início de
outubro, o quarteto estreou ao vivo na terra natal com uma turnê, mas ainda
como The New Yardbirds, enquanto o processo de gravação estava sendo finalizado.
O novo nome
da banda só veio no fim de outubro, quando Jimmy Page lembrou de um encontro
com o guitarrista e ex-integrante dos Yardbirds, Jeff Beck, e os membros do The
Who, o baixista John Entwistle e o baterista Keith Moon. A conversa girou em
torno da possibilidade de formarem um supergrupo. Sobre a ideia, Moon
respondeu: “Provavelmente vai decolar
como um ‘balão de chumbo”. Entwistle completou: “...como um zeppelin de
chumbo” (“lead zeppelin”). A expressão usada pelos membros do Who tinha uma
carga de ironia e ceticismo, provavelmente acreditavam que a ideia não daria
certo. No entanto, Page gostou do nome, e por mais absurda que fosse, a
combinação parecia perfeita e tinha tudo a ver com a musicalidade da nova banda
que conseguia soar pesada e leve, agressiva e delicada. Foi retirado de “lead” a
letra “a” para a palavra não ser lida como “lid”, e a banda acabou sendo
batizada como “Led Zeppelin”.
Em novembro
de 1968, Jimmy Page e Peter Grant voaram para Nova York com as fitas originais
do primeiro álbum, e lá assinaram contrato com a gravadora Atlantic Records.
Como o material do primeiro álbum já estava todo gravado, isso só facilitou o
fechamento do contrato. O Led Zeppelin recebeu um adiantamento de cerca de 200
mil dólares, um valor absurdo para um contrato com uma banda iniciante.
Peter Grant, Jimmy Page e o presidente da Atlentic Records, Ahmet Ertegun, durante assinatura de contrato do Led Zeppelin com a gravadora, em novembro de 1968. |
Um dia após
o Natal de 1968, o Led Zeppelin iniciou a sua primeira turnê pela América do
Norte, passando pelos Estados Unidos e algumas cidades do Canadá, encerrando a
excursão em fevereiro do ano seguinte.
Em 12 de
janeiro de 1969, o primeiro e autointitulado álbum do Led Zeppelin chegava às
lojas dos Estados Unidos. No Reino Unido, o lançamento ocorreu em 28 de março
do mesmo ano. A capa trazia uma ilustração feita pelo designer gráfico
britânico Georgie Hardie, a partir de uma fotografia de Sam Shere feita em maio
de 1937, registrando um acidente com o dirigível Hindenburg, em Lakehurst, no
estado de Nova Jérsey, nos Estados Unidos.
O álbum de
estreia do quarteto inglês começa pesado e em grande estilo com “Good Times Bad
Times”, um hard rock com Jimmy Page fazendo solos incríveis em sua guitarra e
John Bonham quebrando tudo com seu estilo forte e percussivo de tocar bateria.
Na segunda
faixa, “Babe I’m Gonna Leave You”, a introdução traz um delicado solo de
violão. Durante toda a canção, o ritmo alterna a leveza acústica da folk music
com o peso elétrico do hard rock. “Babe I’m Gonna Leave You” é uma canção
composta por Anne Bredon no começo dos anos 1960, gravada por Joan Baez em
1963, mas que por anos foi creditada pelo Led Zeppelin como “Trad. Arr. Page”,
algo como se a canção fosse de “domínio público” e que Jimmy Page fez um novo
arranjo. Nos anos 1980, Brendon conseguiu na Justiça o direito de ter o seu
nome creditado, e assim, teve o direito de receber o pagamento dos royalties.
Led Zeppelin em 1968, da esquerda para a direita: John Bonham, Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones. |
Um solo de
guitarra cheio de lamento tocado por Jimmy Page, acompanhado de uma gaita
executada por Robert Plant, dão início ao blues “You Shook Me”, do veterano bluesman Willie Dixon (1915-1992). O
trecho central da música, traz uma longa pausa instrumental onde cada músico
apresenta as suas habilidades nos seus instrumentos: John Paul Jones mostra que
não é só um grande baixista, mas que também tem uma profunda intimidade como
tecladista ao executar com maestria o órgão Hammond fazendo solos bastante
dramáticos; Robert Plant segue fazendo solos de gaita enquanto que Jimmy Page
extrai todo o potencial da sua guitarra em solos de tirar o fôlego do ouvinte;
John Bonham segura a reta guarda marcando o ritmo com sua bateria trovejante. Plant
encerra a faixa cantando de uma maneira como se algo estivesse sendo extraído
das suas entranhas.
“Dazed and
Confused” é uma música do cantor de Jake Holmes, cantor norte-americano de folk
rock, e gravada originalmente por ele em 1967 como uma folk music. Em 1968,
essa música passou a fazer parte do repertório dos shows dos Yardbirds, e
ganhou desta banda uma versão mais longa e pesada, e nela foi incluída uma
pausa instrumental dramática e sombria no trecho central da música. Nessa
versão com os Yardbirds, Page já fazia o uso do arco de violino na guitarra. A
versão do Led Zeppelin é baseada na dos Yardbirds, porém mais pesada, tensa e
agressiva. Durante anos o Led Zeppelin não deu crédito de autoria a Jake
Holmes. O compositor moveu uma ação judicial contra Page em 2010 e ganhou. Após
um acordo, as novas edições do álbum passaram a trazer no crédito “Jimmy Page,
inspirado por Jake Holmes”.
Jimmy Page nos Yardbirds fazendo uso do arco de violino na guitarra, em 1968. Ele usaria esse mesmo recurso no Led Zeppelin. |
Um belíssimo
solo de órgão Hammond executado John Paul Jones na introdução de “Your Times Is
Gonna Come”, leva ao ouvinte a pensar por um instante que começará a ouvir uma
música sacra barroca. Mas a bateria e o violão folk que seguem depois do órgão,
mostram que é mais uma canção do Led Zeppelin. Jimmy Page faz uso de uma steel guitar que dá um toque especial à
música. A bateria trovejante de Bonham contrasta com a leveza pop que a faixa
possui.
O final de
“Your Times Is Gonna Come” é emendado com a faixa instrumental “Black Mountain
Side”, uma folk music com forte inclinação para a música indiana graças à tabla
executada por Viram Jasani, músico queniano com ascendência indiana.
“Communication
Breakdown” é um hard rock pesado e veloz que traz um Robert Plant cantando de
maneira desesperada. Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham em seus
respectivos instrumentos fazem a camada sonora e urgente da música.
“I Can’t
Quit You Baby” é mais um blues do velho Willie Dixon presente no disco. Foi
gravado pela primeira vez por Otis Rush, em 1956, que a regravou outras vezes,
uma delas, em 1966 para a compilação Chicago / The Blues / Today! Vol.2. A versão de Rush de 1966 serviu de referência
para a regravação feita pelo Led Zeppelin que deu uma orientação mais voltada
para o blues rock, acrescido de mais peso sonoro. Em alguns momentos, a
guitarra de Jimmy Page parece “dialogar” com os vocais de Robert Plant.
Willie Dixon, mestre do blues que teve duas músicas suas regravada pelo Led Zeppelin : "You Shook Me" e "I Can't Quit You Baby". |
A longa e
angustiante “How Many More Time” encerra de maneira brilhante o álbum de
estreia do Led Zeppelin. “How Many More Time” teria sido inspirada em “How Many
More Years”, de Howlin’ Wolf (1910-1976). A música é dividida em partes diferentes
dando a sensação de ser várias músicas em uma, o que mostra a versatilidade
musical dos integrantes da banda inglesa. Um dos andamentos é um trecho
instrumental com Page desfilando solos de guitarra que juntamente com a bateria
de John Bonham, reproduzem claramente uma parte de “Beck’s Bolero”, gravado por
Jeff Beck em 1966, inspirado no “Boléro” de Maurice Ravel (1875-1937). Jimmy
Page usou um arco de violino na guitarra criando uma sonoridade tensa e
caótica. “How Many More Time” termina no mesmo ritmo da primeira parte da
música.
O lançamento
do álbum foi emendado no mês seguinte com a primeira turnê europeia do quarteto
como Led Zeppelin, que incluiu o Reino Unido e a Escandinávia.
A recepção
da crítica quanto ao álbum foi um tanto quanto fria. Na época, o jornalista
John Mendelsohn, na sua resenha sobre o álbum na revista Rollin Stone, reconheceu o talento de Jimmy Page, mas afirmou que
como produtor era muito “limitado”, um “letrista fraco” e “sem imaginação”.
Se a crítica
foi fria com Led Zeppelin, o álbum, o público se mostrou bastante receptivo.
Led
Zeppelin chegou ao 6º lugar da parada do Reino Unido de álbuns,
enquanto que nos Estados Unidos, o álbum conquistou o 10º lugar na parada da Billboard. O álbum gerou o single de “Good
Times Bad Time” que na parada da Billboard
Hot 100, nos Estados Unidos, ficou em 80º lugar.
Entre
janeiro e agosto de 1969, o Led Zeppelin emendou quatro turnês, uma europeia e
três norte-americanas. Durante esse período, entre os intervalos das turnês, o
Led Zeppelin gravou material para o segundo álbum que foi lançado em outubro de
1969.
Faixas
Lado A
1. "Good
Times Bad Times" (Jimmy Page - John Bonham - John Paul Jones)
2. "Babe
I'm Gonna Leave You" (Anne Bredon - Jimmy Page - Robert Plant)
3. "You
Shook Me" (J. B. Lenoir - Willie Dixon)
4. "Dazed
and Confused" (Page)
Lado B
5. "Your
Time Is Gonna Come" (Page - Jones)
6. "Black
Mountain Side" (Page)
7. "Communication
Breakdown" (Jimmy Page - John
Bonham - John Paul Jones)
8. "I
Can't Quit You Baby" (Willie Dixon )
9. "How
Many More Times" (Jimmy Page - John
Bonham - John Paul Jones)
Led
Zeppelin: Robert Plant (voz e gaita), Jimmy Page (violão e guitarra elétrica,
produtor, pedal steel e vocais de
apoio), John Paul Jones (baixo, teclado, órgão Hammond e vocais) e John Bonham
(bateria e percussão).
"Good Times Bad Times"
"Babe I'm Gonna Leave You"
"You Shook Me"
"Dazed and Confused"
"Your Time Is Gonna Come"
"Black Mountain Side"
"Communication Breakdown"
"I Can't Quit You Baby"
"How Many More Times"
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