“Secos & Molhados” (Continental, 1973), Secos & Molhados
Por Sidney Falcão
Início dos anos 1970. O Brasil estava sob o jugo da ditadura
militar que havia se instalado no poder desde 1964, ao derrubar o presidente
João Goulart (1918-1976) e ter adotado a censura e a repressão. Em meio a um
momento tão triste e sombrio em que o Brasil vivia, um conjunto musical surgia
de maneira meteórica trazendo cores e alegria naquele momento tão cinzento: os
Secos & Molhados. Além da alegria e da boa música, o grupo trazia também a
transgressão e a androginia. Numa época em que o Brasil vivia sob total
repressão da ditadura militar, o grupo causou um verdadeiro impacto com seus
integrantes completamente maquiados, dançando e rebolando no palco, tendo à
frente um vocalista atuando de peito nu e cantando com uma voz aguda.
Com um repertório que
misturava folk rock, rock progressivo, pop, MPB e letras com forte carga
poética, os Secos & Molhados tiveram uma ascensão meteórica fantástica,
jamais vista na música brasileira até então. Conquistou as mais diversas faixas
de público, indo das camadas mais pobres às mais ricas, de crianças a idosos,
venderam milhares de cópias do seu primeiro álbum, ameaçando o posto de Roberto
Carlos como maior vendedor de discos do Brasil.
Os Secos & Molhados surgem num Brasil sob o domínio ditatorial militar, onde imperavam a censura e a repressão. |
A ideia para a formação
dos Secos & Molhados partiu da cabeça criativa de João Ricardo, jovem
português que veio para o Brasil com sua família em 1964, fugindo da ditadura
salazarista em Portugal. Curiosamente, chegaram ao Brasil, mais precisamente à cidade
de São Paulo, onde fixaram residência, em março de 1964, dias antes do golpe
militar derrubar o presidente João Goulart e submeter o país a 20 anos de
ditadura. Seu pai, o poeta e jornalista português João Apolinário (1924-1988),
foi trabalhar no jornal Última Hora, escrevendo
críticas sobre teatro. Inspirado pelos Beatles, João Ricardo começa a sua vida
musical compondo e tocando as suas canções. Logo estaria envolvido com a vida
cultural de São Paulo, tocando no circuito de bares da capital paulista e
compondo trilhas para peças teatrais, além de trabalhar como jornalista nos
jornais Diário Popular e Última Hora, e na TV Globo.
Em 1971, João Ricardo
forma os Secos & Molhados, que em sua primeira formação contava com João (voz,
violão de 6 e 12 cordas), Antônio Carlos, conhecido como “Pitoco” (voz, gaita,
viola de 10 cordas) e Fred (percussão). O nome do grupo foi inspirado nos
antigos estabelecimentos comerciais que antes do advento dos supermercados,
vendiam todo tipo de produto como feijão, arroz, farinha, cachaça, carne seca,
sabão e cigarros. Esses armazéns eram chamados de “secos e molhados”, e eram
bastante populares no Brasil até a segunda metade do século XX. Em localidades
onde não haviam supermercados, esses estabelecimentos comerciais supriam as
necessidades da população.
Um típico armazém de secos e molhados do início do século XX no Brasil: nome que inspirou João Ricardo a batizar o grupo musical que estava formando no começo dos anos 1970. |
A estreia dos Secos
& Molhados aconteceu no bar Kurtisso Negro, em São Paulo, ainda em 1971.
Porém, a primeira formação não duraria muito tempo. Antônio Carlos e Fred
deixam o grupo para cada um tocar seus projetos musicais. João Ricardo decide
recrutar novos integrantes para os Secos & Molhados, e convida um amigo da
adolescência, Gérson Conrad (vocais e violão de 6 e 12 cordas). João e Gérson
saem em busca de um vocalista para o grupo, mas que tivesse uma voz aguda.
Conhecem a cantora Luhli, que também se apresentava no bar Kurtisso Negro, e
que se tornaria parceira de composições de João. Luhli indica para João e
Gérson, um amigo que mora no Rio de Janeiro, que canta muito bem e que se
encaixaria dentro daquilo que eles pretendiam para o grupo: Ney Matogrosso.
A
dupla viaja de trem para o Rio de Janeiro para conhecer Ney e fazer uma
proposta para entrar nos Secos & Molhados. Nascido no estado do Mato
Grosso, morou em Brasília até 1966, quando deixou a capital do Brasil para
tentar a carreira de ator de teatro no Rio de Janeiro. Para sobreviver,
trabalhava fazendo artesanato de couro e adotou a estética e a filosofia hippie. Apesar do trabalho com o
artesanato, Ney chegou a atuar em três espetáculos teatrais no Rio de Janeiro,
nos quais ele representava e cantava. Inconscientemente, acabou sendo um
preparo para o que estava por vir na carreira artística de Ney Matogrosso.
Em novembro de 1971,
após aceitar o convite de João Ricardo, Ney Matogrosso deixa o Rio de Janeiro e
parte para São Paulo para se integrar aos Secos & Molhados. Durante um ano,
os Secos & Molhados ensaiaram exaustivamente. Paralelo aos ensaios com os
Secos & Molhados, Ney prossegue com a sua carreira de ator, atuando em
várias peças teatrais que garantiam o seu sustento.
Secos & Molhados no início da carreira e antes da fama: Ney Matogrosso (à esquerda) numa imagem rara usando bigode, e Gérson Conrad (à direita) sem barba e sem bigode. |
Os Secos & Molhados
com sua segunda formação estreia para o público em dezembro de 1972 no Café
Badalação & Tédio, um bar-restaurante do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.
A ideia da maquiagem nasceu um tanto quanto por acaso. Ney participava de uma
peça teatral que estava em cartaz no Teatro Ruth Escobar, e logo após o
espetáculo, ele se dirigia ao bar-restaurante do teatro para se apresentar com
os Secos & Molhados. Numa noite, Ney chegou atrasado para se apresentar com
os Secos & Molhados, e para adiantar, não tirou a maquiagem da peça teatral
que estava fazendo. Luhli, amiga do trio e que estava presente no camarim,
achou a ideia genial, e incrementou a maquiagem de Ney com purpurina. A
apresentação dos Secos & Molhados com o Ney mascarado “acidentalmente”,
acabou agradando o público e os outros membros do grupo incorporaram a ideia e
passaram a se apresentar com os rostos maquiados, que na verdade já havia
passado pela cabeça de João Ricardo, só faltava um estímulo. O teatro kabuki
japonês serviu de referência para os Secos & Molhados elaborarem as suas
maquiagens.
Maquiagens do teatro kabuki japonês: uma das referências estéticas para os Secos & Molhados. |
Os Secos & Molhados
entraram em estúdio em maio de 1973 para gravar o seu primeiro álbum, sob a
produção de Moracy do Val e direção musical de João Ricardo. As gravações
ocorreram no modesto estúdio Prova, em São Paulo, operando com uma mesa de
apenas 4 canais. O processo de gravação durou duas semanas, e como a banda já
havia passado por um ensaio de um ano e vinha de uma temporada no Teatro Ruth
Escobar, as sessões de gravação fluíram rápidas e tranquilas. Os músicos de
apoio eram os mesmos que já acompanhavam os Secos & Molhados nos shows,
dentre os quais o baixista Willy Verdaguer e o baterista Marcelo Frias (ambos
ex-Beat Boys), o pianista Emílio Carrera, o flautista Sérgio Rosadas, o
guitarrista John Flavin e o cantor e tecladista Zé Rodrix, que até o ano
anterior, fazia parte do trio Sá, Rodrix & Guarabyra.
Secos & Molhados e Moracy do Val (o terceiro da esquerda para a direita), empresário do trio. |
A ideia da capa surgiu a
partir do próprio nome do grupo, uma mesa de jantar com produtos vendidos em
armazém de secos e molhados: feijão, cebolas, vinho, batatas, linguiça,
manteiga, broa entre outros produtos. Em meio a esses produtos, quatro cabeças
servidas em bandejas: as de Ney Matogrosso, João Ricardo, Gérson Conrad e
Marcelo Frias. Este último, um quarto “seco e molhado” que logo após o disco
ser lançado, preferiu ser apenas músico de apoio do grupo. A sessão de fotos
ocorreu numa fria madrugada em São Paulo, no estúdio de Antônio Carlos
Rodrigues, fotógrafo do jornal Última
Hora. A mesa foi improvisada, e embaixo dela, os membros dos Secos &
Molhados estavam sentados sobre tijolos. O resultado final foi uma das mais
famosas e icônicas capas de discos da história da música popular
brasileira.
Musicalmente, o álbum Secos
& Molhados revela uma mistura bem estruturada de referências que
envolve num mesmo caldeirão estético musical rock, MPB, pop, Beatles, jazz, rock
progressivo, Tropicalismo, Crosby, Stills, Nash & Young, música
latino-americana, folk rock, além de referências do folclore brasileiro e
português, e da poesia brasileira e portuguesa.
Uma das características
que se tornaram uma marca dos Secos & Molhados foi a habilidade em musicar
poesias de poetas consagrados, transformando essas obras literárias em
belíssimas canções. O fato de João Ricardo, idealizador do grupo, ser filho de
poeta, exerceu uma grande influência na conexão do grupo com a poesia e na
preocupação em compor canções com letras muito bem apuradas.
O álbum começa com uma
fantástica e robusta linha de baixo executada por Willy Verdaguer na introdução
da ótima “Sangue Latino”. A linha de baixo é seguida por um violão de 12 cordas
que dá o tom de folk music à canção. Em determinados trechos da música, uma
viola sertaneja cria na mente do ouvinte a imagem do Brasil rural, campestre. A
letra faz referência ao povo latino-americano, à sua luta e resistência ao
longo da História frente aos colonizadores europeus a partir do século XVI até
os tempos mais recentes de ditaduras militares que por anos estiveram no
comando de alguns países da América Latina.
O grupo Crosby, Stills, Nash & Young exerceu grande influência na harmonização vocal dos Secos & Molhados. |
A faixa seguinte é a
alegre e divertida “O Vira”, uma mistura de rock com o vira, um estilo de dança
e música típico de Portugal. Na música, há citações de figuras do folclore
brasileiro como o Saci-Pererê e o Lobisomem, e mais outros personagens do
imaginário das histórias infantis como a coruja, pirilampos e fadas. A alegria
da música, o visual exótico e as faces maquiadas dos Secos & Molhados que
mais pareciam personagens de histórias-em-quadrinhos, acabaram conquistando o
público infantil. Na época, houve quem achasse que o refrão (“Vira, vira, vira / Vira, vira, vira homem,
vira, vira / Vira, vira, lobisomen”) tinha uma conotação homossexual, mas
os compositores Luhli e João Ricardo afirmaram que o refrão nada tem a ver com
isso, era apenas uma brincadeira.
Um badalar de sino
anuncia o início de “O Patrão Nosso de Cada Dia”, faixa cujo título faz um
trocadilho com a oração cristã “Pai Nosso”. O sino a badalar na canção, ganha
um significado duplo: remete aos sinos das igrejas católicas e ao mesmo tempo
simboliza o alarme das fábricas anunciando o começo da jornada de trabalho. A
letra melancólica, que mais parece um misto de canção e oração, trata de
maneira sutil sobre a submissão do empregado ao patrão. Merece destaque os
solos de flauta de Sérgio Rosadas.
“O Amor” é um poema de
João Apolinário e musicado por João Ricardo e que se transformou num belo folk
rock. De letra curta, “O Amor” parece tratar dos altos e baixos de um
relacionamento amoroso, alternados entre momentos de leveza e de tensão. A
música tem uma linha de baixo marcante, além de uma incrível a harmonização
vocal dos Secos & Molhados.
O poeta e jornalista português João Apolinário, pai de João Ricardo. |
“Primavera nos Dentes” é
outro poema de João Apolinário musicado pelo filho e membro dos Secos &
Molhados, João Ricardo, e é a faixa que encerra o lado A do álbum. A música
possui uma introdução em ritmo de blues tão longa que leva ao ouvinte a crer
que se trata de uma faixa instrumental. Mas longo adiante, os membros do trio
cantam a letra da canção que possui teor político e que alerta que é necessário
lutar e resistir ao autoritarismo que imperava num Brasil dominado pela
ditadura militar (Quem não vacila mesmo
derrotado / Quem já perdido nunca desespera / E envolto em tempestade, decepado
/ Entre os dentes segura a primavera”).
A debochada “Assim
Assado” abre o lado B de Secos & Molhados que traz na sua
letra o personagem Guarda Belo, do desenho animado ‘Manda-Chuva”, da Hanna
Barbera, como uma metáfora da truculência policial a serviço do sistema
repressor da ditadura militar no Brasil naquela época.
O rock animado e
contagiante “Mulher Barriguda” trata sobre o futuro das crianças num mundo
envolto em guerra e violência urbana. A gaita de João Ricardo está presente por
toda a música, enquanto que o piano de Emílio Carrera dá um toque rock’n’roll à
faixa entre a bateria, guitarra e baixo.
“El Rey” faz lembrar as
canções dos antigos trovadores medievais europeus. Na letra da canção, os
autores Gérson Conrad e João Ricardo, criaram uma alegoria que se refere a
Manuel I(1489-1521), Rei de Portugal. O monarca é que representado como uma
criatura de quatro caras e quatro patas, o que seria a personificação do poder
que exercia. Ao mesmo tempo, a letra é entendida como também como uma mensagem
subliminar à Ditadura Militar no Brasil. Com duração curtíssima, “El Rey”
possui um belo arranjo musical que traz uma bela melodia executada pelo violão
de Gérson Conrad. A flauta de Sérgio Rosadas completa de maneira inteligente a
ausência de um verso na segunda estrofe da letra.
A próxima faixa é a
emblemática “Rosa de Hiroshima”, originalmente um poema de Vinícius de Moraes
(1913-1980) escrito por ele em 1946, um ano após o fim da Segunda Guerra
Mundial, e que descreve o horror causado pela bomba atômica lançada sobre
Hiroshima, no Japão. O poema foi transformado numa belíssima e tocante canção quase
trinta anos depois por Gérson Conrad, e que chegou a emocionar o próprio
Vinícius de Moraes que viu seu poema se transformar numa canção pacifista.
Bomba atômica explode sobre Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945: explosão que inspirou poema de Vinícius de Moraes que foi transformado em música pelos Secos & Molhados. |
Escrito pelo poeta
modernista brasileiro Cassiano Ricardo (1895-1974), “Prece Cósmica” é outro
poema musicado por João Ricardo. A letra da canção demonstra uma esperança nas
grandes potências mundiais da época para que elas encontrassem o caminho da
paz. Destaque para a guitarra de John Flavin, executada de maneira pouco comum
no rock brasileiro daquele período.
“Rondó do Capitão” é um poema
de Manuel Bandeira (1886-1968) de 1940 e que foi musicado por João Ricardo no
começo dos nos 1970. Para compor os versos do seu poema, Bandeira teria se
inspirado numa canção de ninar “Bão-Bala-lão”. Nessa canção, Ney Matogrosso
surpreende ao cantar num tom mais grave no álbum.
Os poetas Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Vinícius de Moares: poemas musicados pelos Secos & Molhados. |
Fechando o álbum, a linha e melancólica “Fala”, canção de João Ricardo e Luhli. Nas entrelinhas dos seus versos, “Fala” seria uma resposta à censura imposta pela Ditadura Militar no Brasil que exercia uma forte opressão à liberdade de expressão. A canção teve seus arranjos elaborados de forma brilhante por Zé Rodrix, que faz um solo de sintetizador Moog no final da faixa. Ney Matogrosso canta de maneira divinamente e emprega com sua voz uma carga de melancolia que a música pede.
Secos & Molhados, o álbum, chegou às lojas em
agosto de 1973, com direito a uma festa de lançamento no Teatro Aquarius, em
São Paulo. Apesar da festa, a gravadora Continental fez uma prensagem inicial
de apenas míseras 1.500 cópias, parecia não acreditar no potencial do trio.
Na noite de 9 de
setembro de 1973, um domingo, a situação mudou quando os Secos & Molhados fizeram
uma aparição no programa Fantástico,
da TV Globo. A apresentação e o som do grupo paulista no Fantástico causaram um impacto tão forte no público que assistia ao
programa diante da TV que nos dias seguintes, houve uma procura fora do comum
pelo álbum dos Secos & Molhados. Em uma semana, a pequena tiragem inicial
do álbum se esgotou rapidamente. A Continental teve que fazer às pressas uma
nova remessa de cópias do álbum.
Rock + MPB + androgenia + transgressão + fenômeno pop = Secos & Molhados. |
Passados dois meses do
lançamento, o primeiro disco dos Secos & Molhados chegava à marca das 300
mil cópias vendidas. A procura se tornou tão grande e intensa que a Continental
teve que derreter o encalhe de discos de outros artistas do seu cast para fabricar mais cópias do álbum
dos Secos & Molhados. Para se ter uma ideia, das 25 prensas que a
Continental possuía para fabricar seus discos, 21 operavam exclusivamente para
a fabricação das cópias do álbum dos Secos & Molhados. Até mesmo o formato
de capa dupla da primeira tiragem, teve que ser abdicado; as tiragens seguintes
saíram com capa simples e um encarte dentro com as letras das canções, assim
poupar material gráfico e atender o maior número possível de consumidores.
A essa altura as faixas “O
Vira”, “Sangue Latino” e “Rosa de Hiroshima” estavam estourando nas emissoras
de rádio de todo o Brasil. Daí em diante, os shows do Secos & Molhados
passaram a ser bastante disputados, e sem para plateias superlotadas. Em
janeiro 1974, os Secos & Molhados fizeram uma temporada de um mês no Teatro
Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, sempre com casa cheia. Ainda assim, a
temporada foi insuficiente, pois a procura do público era imensa. Foi então que
decidiram promover uma apresentação no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de
Janeiro, onde bateu recorde com uma apresentação para 30 mil pessoas. Estima-se
que outras 90 mil teriam ficado de fora do ginásio tentando entrar e
transformando o trânsito nas cercanias num caos. Tiveram que fazer mais uma
sessão naquela mesma noite para atender aquele público que não havia conseguido
entrar.
Apresentação antológica dos Secos & Molhados no Maracanãzinho lotado, em janeiro de 1974. |
Em maio de 1974, os
Secos & Molhados partiram para uma turnê no México, onde o álbum do grupo
também foi lançado. Se apresentaram num programa de uma emissora de TV mexicana
que teria sido transmitido para os Estados Unidos.
Foi no México que
aconteceu um fato curioso. Durante a passagem dos Secos & Molhados, o grupo
brasileiro foi procurado por um grupo de empresários norte-americanos
interessados em agenciar a carreira do trio nos Estados Unidos. Mas para isso,
os Secos & Molhados teriam mudar o seu estilo musical por um som mais
pesado. A proposta foi recusada. Numa coincidência do destino, meses depois era
lançado no mercado o primeiro álbum da banda norte-americana Kiss, que ficou
famosa pelo seu hard rock e o visual mascarado. Os Secos & Molhados por
muito tempo teriam acusado o Kiss de plágio, o que na verdade não passa de um
equívoco, pois o quarteto norte-americano já se apresentava mascarado desde
março de 1973, quando em Nova York, fez o primeiro show com músicos maquiados.
Os Secos & Molhados só lançariam o seu primeiro álbum e se tornariam
famosos só após agosto daquele ano.
No rastro do sucesso do
primeiro álbum, que vendido àquelas alturas, mais de 700 mil cópias, os Secos
& Molhados gravaram em junho de 1974 o segundo álbum, que assim como o
primeiro, leva apenas o nome da banda. Também chamado de Secos & Molhados II,
o segundo álbum foi lançado em agosto de 1974, tendo como principal música de
trabalho a faixa “Flores Astrais”.
Se fora da banda, o
sucesso dos Secos & Molhados era incontestável, internamente, o clima na
banda ia de mal a pior. Brigas e desentendimentos começaram a correr os Secos
& Molhados, a tal ponto de Moracy do Val deixar o cargo de empresário do grupo.
João Ricardo, com o apoio de seu pai, João Apolinário, começa a exercer
controle sobre a banda e cria empresa S&M para gerenciar os Secos &
Molhados. O ponto que culminou com a implosão da banda foi quando Ney
Matogrosso e Gérson Conrad receberam cada um contrato da S&M. Se tornariam
assim, funcionários da S&M, ou seja, João Ricardo, colega de banda, se
tornaria patrão de Ney e Gérson. Os dois acabaram deixando os Secos &
Molhados, pondo fim à trajetória meteórica de um dos maiores fenômenos da
história da música brasileira em todos os tempos.
Os três ex-membros dos
Secos & Molhados seguiram carreira solo, sendo que de longe, a mais bem
sucedida foi a de Ney Matogrosso. Gérson Conrad lançou apenas dois álbuns
solos. João Ricardo, dono da marca Secos & Molhados, tentou um retorno em
1977 um retorno com o grupo com novos integrantes, lançou um disco, mas nada
comparável com o fenômeno inicial. Fez novas tentativas nos anos seguintes, mas
sem grande repercussão.
Faixas
Lado A
01 – “Sangue Latino” (João Ricardo
e Paulinho Mendonça)
02 – “O Vira” (João Ricardo e Luhli)
03 – “O Patrão Nosso de Cada Dia”
(João Ricardo)
04 – “Amor” (João Apolinário e
João Ricardo)
05 – “Primavera nos Dentes” (João
Apolinário e João Ricardo)
Lado B
06 – “Assim Assado” (João
Ricardo)
07 – “Mulher Barriguda” (João
Ricardo e Solano Trindade)
08 – “El Rey” (João Ricardo e
Gerson Conrad)
09 – “Rosa de Hiroshima” (Vinicius
de Moraes e Gerson Conrad)
10 – “Prece Cósmica” (João
Ricardo e Cassiano Ricardo)
11 – “Rondó do Capitão” (Manuel
Bandeira e João Ricardo)
12 – “As Andorinhas” (João
Ricardo e Cassiano Ricardo)
13 – “Fala” (João Ricardo e Luhli)
Secos & Molhados: Ney
Matogrosso (vocal), João Ricardo (violão de 6 e 12 cordas, harmônica de boca e
vocal), Gerson Conrad (violões de 6 e 12 cordas e vocal).
Músicos de apoio: Marcelo Frias (bateria
e percussão), Sergio Rosadas (flauta transversal e flauta de bambu), John
Flavin (guitarra e violão de 12 cordas), Zé Rodrix (piano, ocarina e
sintetizador), Willi Verdaguer (Baixo) e Emílio Carrera (piano).
Ouça na íntegra o álbum Secos & Molhados
Vídeo dos bastidores do show dos
Secos & Molhados no Marcanãzinho,
em 1974. (áudio de fundo:
"Rosa de Hiroshima")
Apresentação dos Secos & Molhados com
"Sangue Latino" e "O Vira" no programa
"Siempre en Domingo", na TV Televisa,
México, em maio de 1974.
Apresentação Raúl Velasco.
Excelentes comentários, texto e análise das músicas. Mas há um erro, androgenia x androginia. SM fazia a mistura de gêneros, andróginos. Androgenia seria a geração de pura masculinidade.
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário. Na verdade, houve um erro de grafia. O certo é "androginia", que já foi corrigido.
Excluir