“Tribalistas” (Phonomotor Records, 2002), Tribalistas


A formação de um supergrupo reunindo num conjunto musical artistas com carreiras consagradas, não é um privilégio apenas de astros do rock e da música internacionais, como o Cream, Crosby, Stills, Nash & Young, Traveling Wilburys ou Velvet Revolver. Na música brasileira, ao longo da sua história, tivemos a formação de supergrupos que reuniram gigantes da MPB como os Doces Bárbaros (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia) e o O Grande Encontro (Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho), dois supergrupos que lançaram discos e fizeram turnês muito bem sucedidas sempre com plateias lotadas.

Por volta de 2002, o Brasil viu surgir outro supergrupo, formado Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown, e que ficou conhecido como Tribalistas. O supergrupo nasceu após a participação de Marisa Monte e Carlinhos Brown nas gravações do disco solo de Arnaldo, Paradeiro, em 2001, cuja produção ficou a cargo do próprio Brown. Os três já se conheciam desde os anos 1990, mas só depois do encontro durante as sessões de gravação do disco de Arnaldo, foi que surgiu a ideia de compor e gravar músicas juntos.

Em abril de 2002, o trio de amigos começou um processo de composição e gravação de canções num estúdio na casa de Marisa, no Rio de Janeiro, que durou duas semanas. Todo o processo criação e de gravação das músicas foi filmado, e contou com a presença da cantora baiana Margareth Menezes, na canção “Passe Em Casa”. Apesar de reunir três grandes artistas consagrados da música brasileira, tudo foi gravado e produzido sem grandes pretensões, afinal, cada um tinha seus compromissos profissionais individuais. E há quem afirme que tudo teria sido feito sigilosamente.

Com o título de Tribalistas, o mesmo nome do trio, o álbum de estreia do supergrupo é leve e romântico, com um repertório que transita entre a MPB e o pop, e traz uma sonoridade que mistura o eletroacústico e a percussão.

Os Tribalistas em 2002, da direita para a esquerda: Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes. 

Uma saudação, “bom dia, comunidade”, dá início ao álbum e à primeira faixa, “Carnavália”, uma canção que é uma convocação para cair na folia carnavalesca e ser feliz. Em “Um A Um”, os Tribalistas usam o futebol como metáfora para tratar da harmonia e do equilíbrio num relacionamento a dois: “Eu não quero ganhar / Eu quero chegar junto / Sem perder / Eu quero um a um”. “Velha Infância” é como uma declaração de amor adolescente em forma de canção: “Você é assim / Um sonho pra mim / E quando eu não te vejo / Eu penso em você / Desde o amanhecer”. A cantora baiana Margareth Menezes é a convidada dos Tribalistas na já citada “Passe Em Casa”, uma das melhores faixas do álbum, e que possui um interessante jogo de palavras e um balanço funk eletroacústico delicioso. A faixa seguinte, “O Amor É Feio” traz as contradições do amor.

Marisa Monte e Carlinhos Brown fazem um belo dueto no ritmo calmo e romântico de “É Você”, uma das principais faixas do álbum. Com um arranjo musical lindo e delicado, “Carnalismo” possui uma linha melódica que lembra aquelas modinhas do começo do século XX. “Mary Cristo” é uma singela e lúdica canção de Natal, e faz no seu título, um trocadilho com a expressão em inglês “Merry Christmas”. O clima lúdico e infantil prossegue em “Anjo da Guarda” que lembra uma canção de ninar. Em “Lá de Longe”, os Tribalistas cantam a beleza do mundo escondida num lugar distante. O amor é tratado como elemento de devoção em “Pecado É Lhe Deixar de Molho”: “Eu vou me curvar / Ao tamanho desse amor /  Só o amor sabe os seus”.

Margareth Menezes: dueto com os Tribalistas em "Passe Em Casa".

“Já Sei Namorar”, a principal faixa do álbum, tem uma deliciosa batida pop e faz referência às descobertas de um mundo novo quando se é adolescente. “Tribalistas” é a faixa que encerra o álbum, e refere-se ao próprio trio, que demonstra não ter grandes pretensões e que sua existência tinha um “prazo de validade” breve: “O tribalismo é um anti-movimento / Que vai se desintegrar no próximo momento”.

Tribalistas, o álbum, foi lançado em 31 de outubro de 2002, pelo selo Phonomotor Records, de propriedade de Marisa Monte, com distribuição da EMI, trazendo como capa, uma inusitada ilustração com imagem do trio feita de calda de chocolate pelo artista plástico Vik Muniz. O álbum reunindo três grandes estrelas pegou o público de surpresa e agradou. Além do álbum, foi lançado o DVD que trazia todo o processo de gravação do disco. Ao contrário do que imaginava, não houve turnê, e nem se quer uma apresentação na TV ou entrevistas em rádio para promover o disco. O álbum fez sua carreira sozinho, e foi bem sucedido, diga-se de passagem, muito acima do que o trio esperava.

“Já Sei Namorar” estourou nas rádios de norte a sul do Brasil, alcançando o 1º lugar nas paradas de sucesso das rádios brasileiras. Além do single de “Já Sei Namorar”, o álbum gerou mais dois outros dois singles, o de “Velha Infância” (1º lugar no Brasil) e o de “É Você” (8º lugar no Brasil).

Os Tribalistas na premiação do Grammy Latino, em setembro de 2003.

Em 2003, “Velha Infância” foi incluída na trilha sonora da novela Mulheres Apaixonadas, da TV Globo. No ano seguinte, “É Você” fez parte da trilha sonora da novela Da Cor do Pecado, também da TV Globo.

Comercialmente, Tribalistas teve um ótimo desempenho ao alcançar no Brasil a marca de 1,5 milhão de cópias vendidas. Em março de 2003, o álbum foi lançado na Europa e nos Estados Unidos. Em Portugal, o álbum ficou em 1º lugar, enquanto que na Itália ficou em 2º lugar. No total, Tribalistas vendeu mais de 2,5 milhões de cópias, somando as vendas no Brasil e no exterior.

Os Tribalistas em 2017: o retorno. 

Além do ótimo desempenho comercial, o que prova o reconhecimento do público, Tribalistas foi aclamado pela crítica especializada ao concorrer em várias premiações. Em 2002, o álbum recebeu o prêmio APCA, na categoria “Melhor CD”, e venceu o Troféu Imprensa na categoria “Melhor Música”, com “Já Sei Namorar”. No ano seguinte, conquista o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro”, e o Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria “Melhor DVD” e “Melhor Música” (por “Já Sei Namorar”).

Depois de 15 anos do lançamento do primeiro disco, os Tribalistas anunciaram a volta em 2017, pegando todos de surpresa. Lançaram um novo álbum, e diferente do primeiro, o segundo álbum, que também leva o nome do trio, foi acompanhado de uma grande turnê, a Tribalistas Tour, que começou em julho de 2018, em Salvador, cidade natal de Carlinhos Brown. Além de incluir as principais capitais brasileiras, a turnê passou por Portugal, Espanha, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Bélgica e Itália. 

Faixas  
  1. “Carnavália”
  2. “Um A Um”
  3. “Velha Infância” (Antunes - Brown – Monte - Davi Moraes - Pedro Baby)
  4. “Passe Em Casa” (Antunes – Brown – Monte - Margareth Menezes)
  5. “O Amor É Feio”
  6. “É Você”
  7. “Carnalismo” (Antunes – Brown – Monte - Cezar Mendes)
  8. “Mary Cristo”
  9. “Anjo da Guarda”
  10. “Lá de Longe”
  11. “Pecado É Lhe Deixar de Molho”
  12. “Já Sei Namorar”
  13. “Tribalistas”

Todas as faixas são de autoria de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte, exceto as indicadas.

Tribalistas: Marisa Monte (voz, violão, gaita, acordeon, órgão Hammond, trumpete de brinquedo e palmas), Arnaldo Antunes (voz e palmas) e Carlinhos Brown (voz, baixo, violão, percussão, palmas e órgão Hammond)


Ouça na íntegra o álbum Tribalistas (2002)



"Já Sei Namorar" (videoclipe original)



"Velha Infância" (videoclipe original)



"Passe Em Casa" (videoclipe original)



"É Você" (videoclipe original)



"Carnavália" (videoclipe original)



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