“Cosmotron”(2003, Sony Music), Skank


Com as vendas milionárias dos álbuns Calango (1994) e O Samba Poconé (1996), respectivamente 1,2 milhão e 1,8 milhão de cópias, o Skank havia alcançado o estrelado e se firmado como um gigante da geração do pop rock brasileiro dos anos 1990. A banda mineira podia então simplesmente sentar-se confortavelmente sobre as glórias do sucesso comercial e desfrutar comodamente do prestígio e repetir a fórmula que deu certo. Mas não foi bem isso que aconteceu.

A sonoridade da banda, calcada num misto de reggae, ska, dancehall, rock e pop latino, apesar de tê-la levada ao estrelato, parecia ter se tornado naquele momento um incômodo. No rastro do sucesso do Skank, começava a aparecer algumas pencas de bandas no mercado copiando o estilo do quarteto. 

A partir do álbum Siderado (1998), sucessor de O Samba Poconé, o Skank começa um processo de mudança de rota musical. Em Siderado, o Skank ainda mantém a linha estilística que o consagrou, mas já traz sinais do que estaria por vir. “Resposta”, a faixa mais diferente daquele álbum, revela o caminho que a banda iria tomar em breve. 
Diferente do transitório Siderado, no álbum seguinte, Maquinarama (2000), a mudança estilística é mais acentuada e o trabalho se mostra um divisor de águas na carreira do Skank. O quarteto mineiro deixa de vez a som festivo do reggae, do ska e do dancehall, e segue um caminho mais roqueiro, melódico e acústico como nas faixas “Três Lados” e “Ela Desapareceu”.

Lançado em julho de 2003, Cosmotron, sexto álbum de estúdio do Skank, consolida o processo de mudança estilística da banda mineira. Nele, são perceptíveis referências da fase psicodélica dos Beatles (safra 1965-1966), britpop, Oasis e o movimento Clube da Esquina, tudo dentro de uma embalagem pop e acessível. O álbum é uma clara evolução de Maquinarama, onde o Skank prima pelo colorido melódico e pela leveza poética das letras.


Skank, da esquerda para a direita: Lelo Zaneti, Samuel Rosa, Haroldo Ferreti e Henrique Portugal.

A presença da alma dos Beatles no álbum já é percebida na primeira faixa, “Supernova”, cuja levada rítmica remete à lisérgica “Tomorrow Never Knows”, do álbum Revolver. “As Noites”, balada de clima “oasiano”, possui um lirismo poético nos versos e uma beleza melódica capaz de levar o ouvinte ao mundo dos sonhos. “Pegadas Na Lua” é uma balada pop acústica com pinceladas psicodélicas e levada agradável aos ouvidos. “Amores Imperfeitos” é um folk rock sobre um relacionamento amoroso que acabou, mas que pode voltar. Em “Por Um Triz”, a introdução começa com uma batida eletrônica, mas que depois dá espaço para bateria agressiva e guitarras pesadas.

Com ecos de britpop e Oasis, “Dois Rios” foi um dos hits de Cosmotron.  “Nômade” é a única faixa que faz lembrar o Skank “regueiro” do passado, ainda que sob uma forma estilizada, etérea e psicodélica. O piano destoante no final da faixa guarda alguma inspiração ao piano de “Alladin Sane”, de David Bowie. A alegre e ensolarada “Vou Deixar”, outro grande hit do álbum, carrega referências de Beatles de meados dos anos 1960. Em “Formato Mínimo”, a banda consegue empregar beleza poética nos versos ao retratar o encontro de um jovem casal numa festa que termina num efêmero sexo casual (“Para ele, uma transa típica / O amor em seu formato mínimo/ O corpo se expressando clínico / Da triste solidão, a rubrica”). 

O folk pop e romântico de “Resta Um Pouco Mais” é seguido pelo teor crítico de “Os Ofendidos” e sua bateria dançante e guitarras agressivas. Com um pé no pop e outro na bossa-nova, “É Tarde” faz lembrar “Balada do Amor Inabalável”, do álbum  Maquinarama. “Um Segundo” é outra faixa com um clima britpop.

Com direito a loops e batida dançante, o álbum se encerra com “Sambatron”, um flerte com a MPB que traz versos emprestados de “Águas de Março”, de Tom Jobim, e “Reza”, de Edu Lobo e Ruy Guerra (“Laia badaia sabana / Ave-maria / É pau, é pedra, é toda alvenaria, eu sei”). 

Cosmotron vendeu apenas 210 mil cópias, números muito distantes dos de Calango e Samba Poconé. Contudo, teve uma boa recepção por parte da crítica e de público. O lançamento do álbum foi sucedido de uma turnê pela Europa, onde o Skank tocou em Roskilde, na Dinamarca. O vídeo clipe de “Dois Rios” recebeu o prêmio de melhor vídeo clipe pop no MTV Video Music Brasil 2003, enquanto que o de “Vou Deixar”, conquistou o prêmio de melhor videoclipe pop no MTV Video Music Brasil de 2004. Cosmotron já figura entre os mais importantes álbuns da carreira do quarteto mineiro.

Faixas
  1. "Supernova" (Samuel Rosa - Fausto Fawcett)
  2. "As Noites" (Samuel Rosa - Chico Amaral)
  3. "Pegadas na Lua" (Samuel Rosa - Humberto Effe)
  4. "Amores Imperfeitos" (Samuel Rosa - Chico Amaral)
  5. "Por um Triz" (Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão)
  6. "Dois Rios" (Samuel Rosa - Lô Borges - Nando Reis)
  7. "Nômade" (Samuel Rosa - Chico Amaral)
  8. "Vou Deixar" (Samuel Rosa - Chico Amaral)
  9. "Formato Mínimo" (Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão)
  10. "Resta um Pouco Mais" (Lelo Zaneti - Chico Amaral)
  11. "Os Ofendidos" (Samuel Rosa/Chico Amaral)
  12. "É Tarde" (Samuel Rosa - Chico Amaral)
  13. "Um Segundo" (Samuel Rosa - Chico Amaral)
  14. "Sambatron" (Samuel Rosa - Chico Amaral)

Skank: Samuel Rosa  (vocal, guitarra e violão), Lelo Zaneti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferreti (bateria).



"Supernova"


"Dois Rios"


"Vou Deixar"


"Amores Imperfeitos"







Comentários

  1. O melhor álbum da banda Skank, em minha opinião, e com toda a certeza. Trabalho perfeito, do início ao fim.

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