“The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars” (RCA Victor, 1972), David Bowie


Começo dos anos 1970. Os Beatles acabaram, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison haviam “partido desta para melhor”. O sonho hippie tinha chegado ao fim. Os loucos anos 1960 agora eram coisa do passado. Com a chegada da nova década, o rock ganhava novas formatações, originava novas tendências, dentre elas o glam rock, também conhecido como glitter rock ou rock purpurina. O glam rock priorizava o visual extravagante, muita maquiagem, a alegria e a androginia. Tinha em Marc Bolan, band leader do T. Rex, e em David Bowie, os mais representativos propagadores.

David Bowie na fase Ziggy Stardust, em 1972.
Até 1971, David Bowie era pouco conhecido. Tinha quatro álbuns no currículo, dois deles, The Man Who Sold the World (1970) e Hunky Dory (1971) com um certo reconhecimento da crítica, porém com pouco apelo comercial. O maior sucesso de sua carreira até então era “Space Oddity”, de 1969, e assim mesmo por causa pegando carona na viagem do homem à Lua. Em The Man Who Sold the World, Bowie começou a flertar com a androginia ao aparecer na capa do disco com cabelos longos e com um vestido tido “para homem” do estilista Michael Fish, e deitado delicadamente num sofá. Na capa de Hunky Dory, Bowie repetiu a dose ao posar inspirado da atriz alemã Marlene Dietrich (1901-1902). Mas Bowie queria mais: desenvolver o seu trabalho, mas também queira fama e holofotes, não apenas lançar álbuns para vender para “meia-dúzia”. 

Foi então que ele teve a ideia de criar algo novo, diferente, e que tivesse todo um conceito. As viagens espaciais e a ficção científica foram o ponto de partida. Foi então que ele teve a ideia de criar um personagem, um alter ego. Surgia a ideia de um extraterrestre que viria à Terra como um messias para anunciar que o planeta teria apenas mais cinco anos de existência. Aqui ele se tornaria um astro do rock, conquistaria uma legião de fãs, e em meios aos excessos (drogas, sexo, exposição...), entraria em decadência. Nascia assim Ziggy Stardust e que seria encarnado por David Bowie.

Para a concepção da persona extraterrestre, Bowie buscou inspiração em algumas figuras reais. O sobrenome de Ziggy Stardust, Bowie tomou “empretado” do cantor The Legendary Stardust Cowboy, considerado um dos precursores do psycobilly nos anos 1960. Iggy Pop teria sido a inspiração para o nome. Tanto Iggy como Lou Reed seriam inspiração para o personagem pela transgressão e a postura de artista “maldito”. Outra referência para Bowie conceber Ziggy foi o roqueiro britânico Vince Taylor e sua vida conturbada: abuso de drogas, alucinações, envolvimento com seitas messiânicas e o fato de se julgar um “enviado” de Jesus Cristo. Com todas essas referências, Bowie montou o seu personagem.

David Bowie e os Spiders From Mars
Bowie começou a compor e gravar o material para o álbum sobre o extraterrestre já em 1971, antes mesmo de gravar Hunky Dory; gravou metade antes e a outra depois Hunky Dory. A banda que iria acompanha-lo nas gravações do álbum era a Rats, mas que logo foi rebatizada para Spiders From Mars. Bowie já estava com esses músicos desde o álbum The Man Who Sold the World. 

Em janeiro de 1972, Bowie deu uma entrevista ao “Melody Maker” afirmando que era bissexual. O depoimento gerou polêmica e foi um indício de que Bowie estaria aprontando alguma grande surpresa.

Bowie "encarnado" na pele de Ziggy Stardust
e o guitarrista Mick Ronson.
No mês seguinte, antes mesmo do álbum do rock star extraterrestre sair, Bowie iniciava a turnê de Ziggy Stardust com os Spiders From Mars na Inglaterra. Bowie surge com visual novo com os cabelos curtos tingidos de vermelho e com um figurino assinado pelo estilista japonês Kansai Yamamoto. Era Bowie na pele de Ziggy Stardust, o rock star andrógino e extraterrestre. Os músicos da banda, assim como Bowie, também ganharam figurino especial condizente com a proposta da turnê que roda todo o Reino Unido e se torna um imenso sucesso, conquistando em cheio o público jovem. O grande destaque da banda era guitarrista Mick Ronson, que graças ao seu talento e desempenho no palco, encarnava o espírito do guitar hero.

Seis meses após Hunky Dory, lançado em dezembro de 1971, Bowie lança The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, o quinto de sua carreira, contando toda a saga do astro rock que veio do espaço. O primeiro hit do álbum foi “Starman”. A apresentação de Bowie na pele de Ziggy Stardust acompanhado dos Spiders From Mars no programa “Top Of The Pops”, na BBC TV teve grande repercussão. Bowie/Ziggy havia se tornado o grande ídolo de toda uma massa de jovens ingleses que passaram inclusive até mesmo a pintar os cabelos de vermelho tal qual o rock star extraterrestre.

The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars chegou ao 5º lugar da parada britânica. Nos Estados Unidos, o álbum chegou em 75º lugar na Billboard Music Charts. Finalmente Bowie havia alcançado o sucesso de crítica e de público. Além de “Starman” (que ganhou uma versão em português em 1990 e virou “Astronauta de Mármore” com o Nenhum de Nós), o álbum emplacou outros hits como "Ziggy Stardust", "Suffragette City" e "Rock 'n' Roll Suicide". 

A Ziggy Stardust Tour que começou no início de 1972, se estende até meados de 1973, passando pelo Reino Unido, Estados Unidos e Japão. Durante a passagem da turnê pelos Estados Unidos, Bowie compôs canções inspiradas nas suas observações sobre a América. Essas composições formaram o repertório para o álbum seguinte, o Aladdin Sane, gravado entre o final de 1972 e começo de 1973, ainda durante a Ziggy Stardust Tour.

David Bowie na Ziggy Stardust Tour, 1972-1973
Em 3 de julho de 1973, David Bowie faz a sua última apresentação na pele de Ziggy Stardust no Hammersmith Odeon, em Londres. O show foi filmado e dirigido D. A. Pennebaker e que resultaria num filme-documentário lançado em 1983 sobre a Ziggy Stardust Tour.

Produzido Ken Scott e David Bowie, The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars foi um marco no glam rock, tornando-se um dos mais importantes discos do gênero. Além de ter ajudado a popularizar o glam rock, o álbum deu projeção a um dos mais criativos artistas da história da música pop. A cada álbum, Bowie foi se transformando musicalmente e esteticamente, e apontando caminhos para o futuro do rock. The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars foi referência para o punk e a new wave que viriam a surgir em meados dos anos 1970, e para outros artistas décadas adiante como Marylin Manson e Lady Gaga.

Faixas:

Lado A

  1. "Five Years"      
  2. "Soul Love"       
  3. "Moonage Daydream" 
  4. "Starman"         
  5. "It Ain't Easy" (Ron Davies)

Lado B

  1. "Lady Stardust"               
  2. "Star"   
  3. "Hang On to Yourself" 
  4. "Ziggy Stardust"              
  5. "Suffragette City"          
  6. “Rock 'n' Roll Suicide" 

Todas as faixas são de autoria de David Bowie, exceto a identificada.

David Bowie  (vocais, violão, saxophone e piano), Mick Ronson (guitarra, teclados , piano e backing vocals), Trevor Bolder (bass e trompete) e Mick Woodmansey (bacteria).

Participações especiais: Dana Gillespie (backing vocals em "It Ain't Easy") e Rick Wakeman (cravo em "It Ain't Easy").


Confira o álbum The Rise And Fall Of Ziggy 
Stardust And The Spiders From Mars na
íntegra.
 

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