“Realce” (Warner, 1979), Gilberto Gil


Com Realce, Gilberto Gil fechou a trilogia “RE”, iniciada com o álbum Refazenda (1975), e seguido por Refavela (1977). Porém, entre Refavela e Realce, Gil mudou de gravadora, trocou a Philips pela Warner, que havia se instalado no Brasil em 1977. André Midani, ex-presidente da Philips/Phonogram e responsável pela instalação da Warner no país, havia convidado Gil para migrar para a nova gravadora.

Estreando na Warner em 1978, Gil lançou naquele ano o álbum duplo “Ao Vivo em Montreaux”, gravado no Festival de Montreaux, na Suíça. No mesmo ano, por incentivo de Sérgio Mendes e aposta da Warner, Gil gravou em Los Angeles, nos Estados Unidos, o álbum Nightingale, destinado apenas ao mercado norte-americano. Por volta de março de 1979, Gil e banda partiram para uma turnê pelos Estados Unidos para divulgar Nightingale. Porém, o álbum não teve repercussão esperada.

Mas, repercussão mesmo teve aqui no Brasil foi o compacto que ele lançou enquanto estava em turnê pelos Estados Unidos. “Não Chore Mais”, versão em português de “No Woman, No Cry”, hit de Bob Marley, fez um enorme sucesso e vendeu mais de 700 mil cópias. Foi uma das músicas mais executadas em rádio em 1979 no Brasil.

Gilberto Gil em 1979
Concluída turnê promocional de Nightingale, Gilberto Gil e sua banda se enfurnaram nos estúdios da Westlake Audio, em Los angeles, nos Estados Unidos, em maio de 1979 para gravar Realce, os mesmos em que Michael Jackson gravou o álbum “Off The Wall” naquele ano. Gil gravou o álbum com sua banda, mas contou também com um seleto grupo de músicos norte-americanos, alguns deles figuras ilustres como Steve Lukather, guitarrista do Toto, e do trompetista Jerry Hey, arranjador de metais do Earth, Wind & Fire, e o tecladista Michael Boddicker, especialista em sintetizadores e que estava trabalhando com Michael Jackson no álbum “Off The Wall”. A produção ficou a cargo de Mazola, que já havia trabalhado com Gil na gravadora Philips.

Em agosto de 1979, Realce chegou às lojas. O álbum se mostrou um desdobramento de Refavela. Se em Refavela, Gil fazia a ponte musical entre a Bahia e a África, em Realce, ele ampliava o seu leque sonoro incorporando o pop negro norte-americano como o funk e a disco music, e conectando-os com a musicalidade afro-baiana. O resultado foi um álbum com um pé na tradição, mas ao mesmo tempo de braços abertos para a contemporaneidade.

Contracapa de Realce

O álbum começa em grande estilo com os solos de guitarra de Steve Lukather na introdução de “Realce”. Com forte influência da disco music, a faixa que dá título ao álbum é uma celebração à felicidade, ao amor e à beleza. Em “Sarará Miolo”, Gil canta a autoafirmação da condição em ser mestiço. “Super-Homem – a Canção”, foi inspirada num comentário em que Caetano Veloso fez sobre o filme “Superman”, e é uma das mais belas canções já feitas em homenagem à mulher na música popular brasileira. Gil relembra seus tempos de juventude em Salvador em “Tradição”.

Abrindo o lado B do álbum, “Marina”, um clássico de Dorival Caymmi, ganha através de Gil uma versão contemporânea e pop. No samba “Rebento”, Gilberto Gil discorre de maneira muito poética, os vários significados que a palavra que dá título à música pode ter. Sua filha Nara Gil, então adolescente, serviu de inspiração para o ijexá pop “Toda Menina Baiana”. “Logunedé” é um canto para o orixá do Candomblé e que dá nome à faixa. O disco fecha com “Não Chore Mais” que já havia sido lançada como single meses antes do álbum sair.

O lançamento de Realce foi seguido por uma turnê nacional que passou por 30 cidades e que durou cerca de dois meses e meio.

Realce foi um dos mais bem sucedidos álbuns da carreira de Gilberto Gil, tanto do ponto de vista técnico quanto artístico e comercial. Foi um trabalho muito bem produzido, bem finalizado, e o fato de ter sido produzido em um dos melhores estúdios de gravação dos Estados Unidos, contribuiu muito. Das nove faixas do álbum, seis viraram hits, o que fez Realce ter chegado a pouco mais de 300 mil cópias vendidas. O álbum foi um divisor de águas, abriu as portas para orientação pop que Gil daria para sua carreira ao adentrar nos anos 1980.

Faixas:

Lado A
  1. “Realce"                    
  2. "Sarará Miolo"                      
  3. "Super-Homem - A Canção"               
  4. "Tradição" 

Lado B                     
  1. "Marina" (Dorival Caymmi) 
  2. "Rebento"                  
  3. "Toda Menina Baiana"                     
  4. "Logunedé"           
  5. "Não Chore Mais" (Vincent Ford / versão Gilberto Gil) 

Todas as faixas são de autoria de Gilberto Gil, exceto as faixas indicadas.



"Realce"

 


"Sarará Miolo"

 


"Super-Homem - A Canção"

 


"Tradição"

 


"Marina"


"Rebento"

 


"Toda Menina Baiana"

 


"Logunedé"

 


"Não Chore Mais"

Comentários