“Fruto Proibido”(Som Livre, 1975), Rita Lee & Tutti Frutti
Fruto Proibido é o quarto álbum solo de Rita Lee e o segundo dela
com a banda Tutti Frutti. O álbum marca a sua estreia na gravadora Som Livre e
torna a cantora uma superestrela do rock brasileiro. Mas desde a sua saída dos
Mutantes até chegar ao estrelato com Fruto Proibido, ela pegou caminhos
tortuosos e passou por frustrações.
No final de 1972, Rita Lee foi “convidada” a deixar os Mutantes
por não se “enquadrar” na nova orientação que a banda estava tomando que era o
rock progressivo. A cantora já se mostrava insatisfeita com os novos rumos do
grupo, distantes do humor e da musicalidade anárquica dos primeiros discos. Com
a amiga Lúcia Turnbull, forma em 1973 a dupla Cilibrinas do Éden, voltada para uma
proposta acústica. Porém a ideia foi um tremendo fisco e a própria Rita sentia
falta da energia pulsante do som elétrico do rock.
Naquele mesmo ano, Rita e Lúcia conheceram a banda Lisergia,
da qual o guitarrista Luiz Sérgio Carlini, o baixista Lee Marcucci e o baterista
e Emilson Colantonio faziam parte. Juntaram-se e a banda foi rebatizada de Rita
Lee & Tutti Frutti, por sugestão da gravadora Philips. O som da banda era
voltado para uma sonoridade que abarcava influências de Rolling Stones, David
Bowie, hard rock, blues, glam rock e um clima mais festeiro, bem diferente da
seriedade que os Mutantes haviam adotado ao mergulharem de vez no rock
progressivo.
Rita Lee & tutti Frutti em 1974. |
Em 1974, Rita Lee & Tutti Frutti lançaram pela Philips/Phonogram
o álbum Atrás Do Porto Tem Uma Cidade, trabalho que não foi bem
recebido pela crítica. O processo de finalização do álbum, que sofreu
alterações, gerou atritos entre a Rita Lee e a gravadora. A cantora se mostrou
contrariada pelo fato do produtor do disco ter mexido na faixa “Menino Bonito”,
que sem o consentimento de Rita e da banda, sofreu o acréscimo de uma orquestra
de cordas durante a mixagem, coisa que não estava prevista pela banda. Para
completar, a gravadora Philips não teria trabalhado com empenho na divulgação
do álbum, o que gerou desentendimentos entre Rita Lee e o diretor da gravadora,
André Midani. A Philips estaria mais interessada em apostar no ex-Secos
Molhados, João Ricardo, como a nova estrela do rock da gravadora. O clima
pesado culminou com a rescisão de contrato entre a gravadora e Rita Lee &
Tutti Frutti. Depois dessa confusão, Lúcia Turnbull e Edmilson deixaram o Tutti
Frutti.
Em 1975, Tutti Frutti conta com nova formação com a entrada
de Franklin Paolilo na bateria no lugar de Edmilson, e a chegada do tecladista
Paulo Maurício e dos backing vocals e irmãos gêmeos Rubens Nardo e Gilberto
Nardo.
Naquele ano, Rita e banda assinam contrato com a Som Livre
que lança em junho daquele ano Fruto Proibido. Ao contrário do
álbum anterior, Fruto Proibido é muito bem recebido crítica que destaca o
amadurecimento de Rita Lee como letrista e o talento do guitarrista Luiz Sérgio
Carlini.
“Dançar Pra Não Dançar” é a faixa que abre o álbum e já dá
indícios de que a liberdade feminina se tornaria um tema constante na obra de
Rita (“Dance, dance, dance / Faça como Isadora / Que ficou na História / Por
dançar como bem quisesse”). A letra faz uma alusão a Isadora Duncan (1877-1927)
bailarina pioneira da dança moderna. Em “Agora Só Falta Você”, a guitarra de
Carlini cresce e estabelece um “diálogo” com a bateria de Paolillo, cujas viradas
preenchem os espaços da música com maestria. O ritmo desacelera com o blues
“Cartão Postal”, pareceria de Rita Lee e Paulo Coelho, parceiro de Raul Seixas,
mas que naquele momento estava afastado do roqueiro baiano. No galopante blues
rock “Fruto Proibido”, a gaita tocada por Carlini dá um toque especial à faixa.
"Esse Tal De Roque Enrow", outra parceria de Paulo Coelho e
Rita, fecha o lado A do álbum, tendo a
guitarra de Carlini “duelando” com os solos de sax de Manito, ex-Incríveis,
músico convidado.
O lado B começa com mais uma parceria de Paulo e Rita, “O
Toque”, um misto de hard rock e rock progressivo, único momento do disco que
remete um pouco aos Mutantes. “Pirataria” traz um solo de flauta executada por
Manito e que dá um clima de Jethro Tull à música. Em “Luz Del Fuego”, a
temática feminista fica escancarada, com destaque para a incrível sintonia
entre guitarra, baixo e bateria na introdução. A autobiográfica “Ovelha Negra”
fecha o álbum e traz o solo de guitarra emocionante de Carlini no final, sem
sombra de dúvidas, maior solo de guitarra da história do rock brasileiro.
Rita Lee & Tutti Frutti em 1975. |
Um personagem que se tornaria uma peça fundamental para o
acabamento de Fruto Proibido foi o seu produtor, o inglês Andy Mills. Ele fazia
parte da equipe de Alice Cooper, na qual trabalhou como técnico de som. Andy
veio para o Brasil com a equipe do mestre do rock horror para uma apresentação,
e acabou fixando residência no país. A sua experiência em ter trabalhado no
primeiro escalão do rock mundial, deu a Fruto Proibido um caráter
diferenciado se comparado a outros discos de rock produzido por produtores
brasileiros naquele momento. Era comum na época, os produtores brasileiros
limitarem o potencial das guitarras, torná-las mais “domesticadas” para o
ouvinte. Em Fruto Proibido, Andy deixou as guitarras mais livres e o volume
da bateria mais alto do que o comum, dando mais “musculatura” ao som do
instrumento no disco e realçando a técnica do baterista.
Comercialmente, Fruto Proibido foi muito bem. O fato
da Som Livre pertencer à Rede Globo, ajudou a dar visibilidade a Rita Lee &
Tutti Frutti através das propagandas do álbum nos intervalos da programação da
rede de televisão. Puxado pelos hits "Ovelha Negra", "Agora Só
Falta Você" e "Esse Tal De Roque Enrow", o álbum chegou à marca
e 200 mil cópias vendidas. O sucesso do álbum foi tão grande que Rita e banda
saíram em uma grande turnê nacional com uma equipe composta por mais de 20
pessoas, entre músicos e técnicos, 6 toneladas de equipamento de som e luz, e
uma produção de alto nível jamais visto até em apresentações de artistas do
rock brasileiro até então. O sucesso de Fruto
Proibido não deixou de ser também para Rita Lee, um tapa na cara com
luva de pelica nos ex-companheiros dos Mutantes e na sua antiga gravadora, a
Philips/Phonogram.
Durante a turnê de Fruto Proibido, Rita e banda
prepararam material para o álbum seguinte. A excursão desbravadora inspirou o
nome do álbum que viria em seguida: Entradas e Bandeiras, de 1976.
Fruto Proibido é considerado pela crítica um dos maiores discos
de rock produzidos no Brasil, bem como um dos mais importantes discos da música
popular brasileira.
Faixas:
Lado A
"Dançar
Pra Não Dançar" (Rita Lee)
"Agora
Só Falta Você" (Luis Sérgio Carlini - Rita Lee)
"Cartão
Postal" (Paulo Coelho - Rita Lee)
"Fruto
Proibido" (Rita Lee)
"Esse
Tal De Roque Enrow" (Paulo Coelho - Rita Lee)
Lado B
"O
Toque" (Paulo Coelho - Rita Lee)
"Pirataria"
(Lee Marcucci - Rita Lee)
"Luz
Del Fuego" (Rita Lee)
"Ovelha Negra" (Rita Lee)
Confira Fruto Proibido na íntegra
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