“Who’s Next” (Track, 1971), The Who
O Who fechou a década de 1960 com chave de ouro. Em 1969, o
Who havia lançado o álbum-duplo Tommy, ópera-rock que consagrou a
banda. Para promover o álbum, o Who iniciou uma extensa turnê de pouco mais de
um ano, que incluiu a apresentação no Festival de Woodstock, nos Estados
Unidos, em agosto de 1969, e uma no Festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, em
agosto de 1970. Nesse meio tempo, no começo de 1970, o Who lançou Live
At Leeds, gravado ao vivo na Universidade de Leeds, na Inglaterra, cujo
show fazia parte também da turnê de Tommy.
Após essa extensa, cansativa, porém bem sucedida turnê de
Tommy, o Who inicia a década de 1970 mergulhado num novo e ambicioso projeto:
Lifehouse.
Tratava-se de um projeto multimídia conceitual que envolveria um álbum duplo e
um filme com roteiro de Pete Townshend, guitarrista do Who e idealizador do projeto. A história seria uma ficção-científica
onde as pessoas vivem sob um regime autoritário e repressor que controla a
todos por meio de uma rede de computadores. A salvação estaria num gênero
musical do passado: o rock’n’roll.
No primeiro semestre de 1971, o Who e o produtor Kit Lambert,
começaram a gravar em Nova York as faixas de Lifehouse. No entanto, o
processo de gravação do álbum foi cercado de muitos desentendimentos e brigas entre
a banda e o produtor. O Who se mostrava insatisfeito com os resultados,
principalmente Pete Townshend, que além de idealizador do projeto, era o autor da maioria das
faixas. O desgaste físico e mental gerado pela dificuldade de Townshend em traduzir
o enredo da fantasia futurista para que se tornasse compreensível, somado às
brigas com o produtor Kit Lambert, acabaram resultando no cancelamento do
projeto Lifehouse.
Com o cancelamento, o Who rompe com Lambert e volta para
Londres. Na capital inglesa, a banda contrata um novo produtor, Gly Johns,
profissional que já havia trabalhado com os Beatles e os Rolling Stones. Juntos,
Who e Johns avaliaram o que havia sido gravado do material de Lifehouse
em Nova York, selecionando o que havia de melhor, reescrevendo e regravando o
que era necessário. O projeto ambicioso e engavetado deu origem a um álbum
enxuto e simples: Who’s Next.
Quarto álbum de estúdio do Who, Who’s
Next foi lançado em agosto de 1971. Na capa, aparecem os quatro
integrantes da banda diante de um bloco de concreto. A imagem remete à cena do
monolito do filme 2001: Uma Odisseia no
Espaço. O quarteto parece ter acabado de urinar num bloco de concreto, um
monólito que fica na cidade de Easington Colliery, na Inglaterra. Para a
gravação de Who’s Next, o quarteto inglês contou com participações especiais de
Nicky Hopkin (piano), Al Kooper (órgão) e Dave Arbus (violino em “Baba O'Riley”).
"Baba O'Riley" é a
faixa que abre o álbum e seu título é uma combinação dos nomes Meher Baba (guru
indiano de Pete Townshend) com Terry Riley (músico e um dos criadores da música
minimalista). Foi composta originalmente para o projeto Lifehouse. Por muitos anos
se pensou que o som eletrônico na introdução de "Baba O'Riley" fosse
de um sintetizador, mas na verdade é de um órgão Lowrey Bershire Deluxe TBO-1
executado por Peter Townshend. Na época do processo de gravação de Who’s
Next, Pete Towshend mostrava-se encantado com os recursos e
possibilidades dos sintetizadores como o EMS VCS3 e o ARP 2500.
Pete Townshend e o sintetizador ARP 2500 |
O lado B começa com a balada rock
“Getting In Tune", música que fez parte do projeto Lifehouse e traz o piano
pilotado por Nicky Hopkins. "Going Mobile" descreve a alegria e a
liberdade de sair pelo mundo com uma “casa móvel”, aquele tipo de veículo que é
ao mesmo tempo uma residência sobre rodas, tão comum nos Estados Unidos.
Regravada mais de trinta anos depois pelo Limp Biskit, "Behind Blue
Eyes" é outra faixa escrita para o álbum Lifehouse e retrata a
angústia e o conflito de um homem em ser mau e odiado. O hard rock "Won't
Get Fooled Again", outra “herança” de Lifehouse, encerra o álbum de maneira
apoteótica, trazendo solos de teclados pontuando toda a música e que nada mais
são do que o resultado de um órgão Lowrey Bershire Deluxe TBO-1 conectado ao um
sintetizador EMC VCS3, muito usado por bandas de rock progressivo no começo
dos anos 1970 como o Pink Floyd, no álbum The Dark Side Of The Moon.
Pete Towshend no seu estúdio com teclados e um sintetizador EMS VCS3 ( em primeiro plano à direita), em 1970. |
Who’s Next foi o maior
êxito comercial da carreira do Who. Na época de seu lançamento, o álbum teve uma boa recepção do público e da crítica. Alcançou o 1º lugar
na parada britânica e o 4º lugar na parada norte-americana. Atingiu a marca de
3 milhões de cópias vendidas.
Diz o ditado que há males que vem
para o bem. Do processo de criação confuso, desgastante e caótico de Lifehouse
que resultou no seu cancelamento, surgiu Who’s Next, um grande
álbum. Se Lifehouse mostrava-se um projeto de uma só pessoa, neste caso
Pete Towshend, Who’s Next mostrou-se um trabalho coletivo que envolveu toda a
banda, onde cada músico imprimiu a sua marca, e a atuação brilhante do produtor Gly Johns na produção do disco, conseguindo resultados bem mais satisfatórios
que Kit Lambert em Lifehouse.
Relançamentos recentes de Who’s
Next em CD trazem como bônus, faixas originais do cancelado Lifehouse
produzidas por Kit Lambert, em Nova York, e que foram regravadas pelo Who sob a
produção de Gly Johns para Who’s Next. Uma oportunidade de
o ouvinte fazer comparações entre as mesmas músicas gravadas, mas sob a
orientação de produtores diferentes, e assim tirar as suas próprias conclusões.
Todas as faixas são de autoria de
Pete Townshend, exceto a indicada.
Faixas
Lado A
- “Baba O'Riley"
- "Bargain"
- "Love Ain't For Keeping"
- "My Wife" (John Entwistle)
- "The Song Is Over"
Lado B
- "Getting In Tune"
- "Going Mobile"
- "Behind Blue Eyes"
- "Won't Get Fooled Again"
The Who: Roger Daltrey (vocais), Pete Townshend ( guitarras, vocais,
órgão, sintetizadores e piano em "Baba O'Riley"), John Entwistle
(baixo, vocais, metais e piano em "My Wife") e Keith Moon (bateria).
Confira o álbum Who's Next na íntegra
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